sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

NECESSÁRIO!

Mais do que nunca, são as coisas que servem as pessoas, e não o inverso!!!!!!!!!!!!!!!!!!
E de repente acabou.
Pra onde foi a alma não se sabe
E, no plano da saudade,
O tilintar dos infindáveis relógios do tempo
São os estrondos das arrasadoras armas matadeiras
funcionando em plena e inaudível
fabricatividade

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Mais uma vez o final do ano se aproxima. Afora os distúrbios da panacéia consumista que invadem nossa vida de pequenos burgueses capitalistas, algo fica queimando internamente.

Lembro que quando criança não eram somente os presentes que me seduziam. Eram apenas coadjuvantes de algo muito mais belo. Os presentes apenas refletiam a alegria, a esperança, os abraços sinceros, as visitas fraternas... Tudo era visto através daquela pequena árvore de Natal.

Nem tudo é consumismo nessa época. Por esses dias, a caridade despretensiosa, as aspirações mais belas, os gestos mais nobres, a fé mais fidedigna ecoa pelos quatro cantos. Façamos desse momento, antes de tudo, um momento de reflexão. Reafirmando as convicções, celebrando o que foi conquistado e planejando o que ficou por ser feito.

Festejemos a certeza de que o homem não é um caso perdido no fim das contas.

Existem, é verdade, os que massacram povos indefesos. Os que em nome da liberdade espalham o terror e a servidão pelo mundo e, talvez pior ainda, os que cumprimentam estes sorridentes e com honras de Estado.

Existem... Existem e muitos!

Assassinos robotizados. Mas há ainda...

O falar sincero, o olhar gentil, o amar direto...

Há ainda... Os que dão a vida, não por si mas, por amor aos seus.

E, enquanto houverem homens e mulheres assim, a vida será sempre uma aventura que vale a pena viver.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Adiós, Fapita



Parece mentira, mas encerrei uma longa trajetória que parecia não ter fim. Confesso, ontem, em meio à prova, eu olhava pra Ane, buscando repartir os tantos sentimentos que naquele instante surgiam em mim e, de repente, me dava conta de que havia algo inflamado dentro do peito, e ele ia tomando conta, se espalhando, subindo pras idéias, atrapalhando tudo dentro da cabeça; ah, muita vontade de chorar. de chorar por tanta coisa, sabe. por tudo que eu deixei de fazer, de conhecer, de respirar, de dormir, de viajar, de aproveitar, de comer, de encontrar, para, enfim, estar ali - chegar ao último e verdadeiro dia de aula. E, então, não controlei e chorei. Chorei no fundo da sala. Chorei pra mim. Chorei pra minha mãe, pros meus amores tantos da minha vida. Chorei a emoção guardada. de represa pronta para abertura de comporta.

Depois de passados esses dias de provação, e fazendo um retrospecto dessa trajetória que se projeta agora, como um filme na minha frente, vejo quantos ontens ficaram para trás, quantos amanhãs encerrados dentro da morada uterina se foram; e então consigo lembrar exatamente daquele meu outro jeito que tinha,- ansioso, quando os meus olhos corriam embasbacados por completar todas aquelas cadeiras ainda desconhecidas e que vertiam em pergaminho sem-fim, na grade do comprovante de matrícula. E, hoje...
e hoje, finalmente, foram preenchidas até o último quadradinho de um papel timbrado.

Essa questão de se ver, de súbito, vivendo um momento sempre sonhado, riscado, contabilizado até a última gota espremida, é, sem dúvida, muuuuito louca. Mas muito louca mesmo. Isso, me faz ver que volátil é o tempo, essa migalha à nossa história; uma reles migalha, por mais que envolva uma mão cheinha da existência.

Nesses dois últimos semestres, andava muito cansada, nauseada, estressada, achando todo aquele catatau de conteúdo muito intelecto engessado pra minha cabeça já lotada e ávida por navegar n´outros mares; queria fazer outras coisas, - lides manuais, aventuras, voltar a dançar, escolher meu próprio livro, esquecer do mundo, das âncoras que me soterravam do céu, dos prazos cegos e suas conseqüências somáticas, das caudalosas leituras e de todos os comprometimentos que uma faculdade faz implicar.

Ao final desse ano de 2007, olho feito pássaro migratório para os tantos horizontes que começam a surgir adiante, e antes de alçar vôo nessas longínquas linhas, olho para mim, para mim nesse novo corpo, e então o vejo tão diferente, meio amorfo, talvez "encadeiradamente disforme" sejam as palavras certas para definir o esqueleto atacado de pelanca. É, o corpo pagou o preço por eu acreditar em um ideal secreto, acho, que surgido na tenra infância, e não levado tão a sério até o meu um quarto de século: de aprimorar a escrita; de perder o medo de assumir um jeito próprio de eternizar as idéias.

O tempo passou, cresci, e, vivaldina vivi. Todavia, lá pelos vinte dois, vinte quatro anos, ainda estava insatisfeita, pois percebia que eu era perna-bamba da metafísica; então vi - precisava aprender, mas aprender de verdade, aprender mais, com os grandes. Queria ter certezas. Certezas inabaláveis, de um certo James Bond ao meu modo na hora de mirar certeiro a letra. Escolhi Letras, óbvio. Baita curso (só para poderosos a serviço).

Depois de ter feito tanta coisa, estudado de tudo um pouco nessa vida, vejo nitidamente, não há curso que lapide melhor a linguagem do que essa faculdade. Hoje, acredito em mim, não mais temo se se faz assim ou assado, ou se escrever “isso” vai transmitir ulhas, fagulhas ou, vá saber se bulhufas. Hoje, posso dizer que sei de mim, do que a Mariana sente, e não tem erro; não é a gramática que vai desmerecer, dar rasteira; não é porque sou desvirgulada, ou ando torta das regências de Pasquale Neto da Academia de Deus, que deixarei de sentir pra narrar as coisas que eu sinto pulsantes, verdadeiras, vivas e muito, muito muito grandes, acima de todos protocolos de erudição. Hoje eu sei uma coisa nova, que nasceu há pouco: eu sei que agora eu sei saber de mim. As regras não mais maculam uma cápsula sequer das minhas idéias; e, simplesmente, porque elas nascem na vertente cava do coração. Eu meto a idéia, cunho o "mn" e assumo sem medo. Não mais me importam as referências, o não-agrado do mestre ou a nota hottest one. Não é isso que me constrói como ser. E, engraçado, justamente isso a faculdade me deu - uma espécie de coragem, de personalidade intelectual, mesmo que torpe em seu escopo.

É duro admitir, ainda mais porque "orgulho" é substantivo regente desse corpo diabolique, mas, ainda sim, admito:
Eu me encontrei me perdendo lá dentro. Valeu, e isso é baita arma. Conhecimento é munição portátil, bagagem invisível em qualquer alfândega do mundo e que ninguém pode tirar.



quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Pós-moderno



Ergue um pedestal e coloca teu ídolo de pedra


Estético, seletivo, hierático...


Tantas mazelas que endurecem as gentes!


Eu sigo: irônico, descrente, sem saco...


Do seu mundo plastificado na aparência
Hipócrita, cronomonetário, exático...


E quem se importa se você se importa
Com o que a gente sente?!


O nobre olhar da tua Deusa demoníaca
Transforma tudo em pedra


Pobres viventes... Ah, os viventes
Vomitam convuldisfunções cardíacas
Cospem promessas
(Outros idiotas adoram correr atrás destas)


Abraçam o vento
Apontam o dedo em outra direção...


Escarram-se em olhares sórdidos
Regurgitam sentimentos mórbidos


E não pensam
Como animais que são...

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Perder palavras - III

Tu passa dias e dias, toma grande parte da existência para dar vida às palavras, deixa de estar com pessoas, deixa de sair, de pegar um sol na pele; enfim, tudo para se dedicar a um grande propósito. E então, de repente, vupt! as escrituras se perdem.
Saibam, que essa tragédia é mais comum do que se pensa, e não acontece só com quem não faz back up no computador para se salvaguardar dessa obscura probabilidade.


O célebre dramaturgo Jean-Baptiste Molière (1622-1673), além de autor e ator de peças de teatro, era também um expert em cultura clássica, e passou alguns anos dedicando-se a uma tradução do livro Da Natureza das Coisas, do poeta latino Lucrécio. Molière era também um homem vaidoso, e não dispensava a peruca cacheada tão em moda na sua época. Um dia, porém, descobriu que seu criado vinha usando as páginas da sua tradução para fazer os rolos de papel necessários para manter a peruca em ordem. Enfurecido, queimou o resto das páginas e abandonou a tradução.


Bah, já pensou se é contigo?

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

O Segredo


O mistério do mundo me assombra...
O seu mísero desejo de consciência:
Ciência, racionalidade, conveniência...
A contingência da verdade!


Tudo do nada? E o nada de onde?
Evidente problema!
Pois que peguem seus tubos de ensaio joguem palavras ao vento
E que se forme um poema!!


Onde há mais verdade?
No trabalho da lavadeira, no genuflexório da rezadeira ou na lida do operário?


Talvez essa seja a verdadeira essência:
nenhum desejo de consciência!
Apenas a morte caindo implacável e serena do azul
Como a fluorescência dos astros
em noites estreladas...


Ah, aquela bela frase:
“Há mais verdades entre o céu e a terra do que julgam todas as filosofias...”
Ah, nossos tempos modernos inverteram a lógica em pura anacronia!

Pois se tu vivesses hoje em meio a cegueira dos iniciados escreveria:
“Há mais mentiras que verdades...”


Que continuem buscando a verdade em suas parcas teorias.
Nas religiões, Filosofias do mundo, nas ruas da cidade...
Jamais, nenhuma delas,
terão tanta verdade, nem tão pouco a seriedade,
das crianças quando brincam...

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Tons


Em cada dor: uma partida

Em cada cor: um recomeço

Em cada tom [eu reconheço]

A eterna mudança da vida...

sábado, 24 de novembro de 2007

Mentiras sinceras

Mentiras sinceras muito me interessam.

Sussurros norteadores que revelam o que se é displicentemente.

Alguns pequenos passos ao espaço literato escondem o ego acendendo incenso perfumado em palavras que instigam o paladar dos viventes pela subjetiva sinestesia do olfato.

O devir, espaço eqüidistante da mão ao papel é um hipotético arco-íris de cores a serem psicografadas da alma como trabalho de criança [empunhando lápis de cor, canetinha, giz de cera] ainda por colorir.

Que caiam por terra todas as verdades auto-suficientes!

Palavras-ícones imóveis que confortam tantas mentes em status correto de bom expectador.

Arquétipos pré-moldados sobre imensos alicerces fabricados onde a dor subsiste na utopia dos padrões de felicidade e satisfação.

Meu ébrio equilíbrio de convicção esferográfica revela e disfarça o que fui e o que não sou: um mentiroso velado cheio de boas intenções.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

perder palavras - II

justamente, andava pensando tanto nessa questão de "perder palavras", que o pensamento resolveu se concretizar; virou ímã; o único porém que me cabe ressaltar é que já haviam outros textos desse mesmo assunto, na frente deste post baseado no agora agorinha da louca aqui; então, só pra variar, resolvi guinar o trajeto e meter a carreta na frente dos bois, ah, apenas para não desvirtuar muito do caminho natural da desordem e continuar sendo fiel ao meu o instinto caótico que se recusa em adormecer com a idade.

por esses dias de novembro que aos poucos já começa a se avizinhar em tempos de dingobél, faço uma retrospectiva à cesta básica, antes mesmo de chegar no dia 30; e, de antemão bem rapidinho, concluo: andei tão sem tempo, que, no final das contas, nem acaso o houve para falta dele sentir e me enleiar com a escrita.
é, as últimas semanas têm se saído exímias Maryl Streeps, em o Diabo Veste Prada, no seu papel de Aniquiladoras Maior de qualquer sopro de inspiração divina. todavia, no ardor da peleia pampeana de quem não se entrega, eu hei de conseguir tirar alguma energia de lá, e ter, nem que seja uma míope réstia de criatividade, mesmo que seja abaixo de dias beges dias, mas não deixar jamais a energia viva morrer!

então, para aproveitar o cauldal do leite da pedra filosofal doidal, mostro-lhes a bomba que acabei de escrever para a dona Ane, programada pro bum, agora, no auge ao cubo de minha loucura (acho que também a dela) pelos os estafantes prazos de entregas dos trabalhos acadêmicos. well, apenas espero reler isso um dia e verdadeiramente achar graça desse estado de espírito que vem se agigantando ao tomar as rédias do meu autocontrole a cada badalada a menos nessa contagem regressiva para alforria que, toda tesa, me espera lá fora.



Ane, eu to ficando loca, mas eu não me esqueci de ti, tá? olha eu não me esqueci, agora só te peço, só não esquece de mim, e traz um gardenal na próxima aula, vamos tomar boletas para enfim sonhar viver de olhos abertos e bem calmas a liberdade que tanto sonhamos e que tanto riscamos diminuindo os dias naqueles pauzinhos desenhados de presidiárias que foram e vieram de arrasto dentro da modorra pardacenta.


é sério, preciso te dizer, preciso te dizer isso há dias, às vezes eu acho que há uma grande conspiração contra mim; eu tenho certeza de que eu faço as coisas, tenho a nítida lembrança de ter escrito algumas várias e certas bobagens incertas sobre a punhetinha solicitada pela mestra-mór e, no entanto, vou procurar o arquivo, seja no pen-drive, no pc, ou na minha memória estéril de quem já está nas últimas, e nada. vasculho várias vezes, aperto o botão da merda ampulheta do sherlock que windows resolveu tomar conta (e que de sherlock não tem é nada) e nada. nada aparece. mas eu me lembro, eu me lembro das frases, o jeito que eu tinha escrito determinada mentira ou verdade, já não importa, o fato é que eu me lembro delas em meio a esses tantos arquivos que, para o meu desespero ainda maior, só abrem em branco, e as frases então voltam na minha memória, bem do jeito, bem do jeito que eu tinha escrito sabe.


guria, descrever tal sensação de perda me dá duas, três, quatro vezes uma revolta do estômago que me sobe tudinho pra cabeça. dá vontade de sair vomitando nas pessoas, quaisquer pessoas, até nos velhinhos que dão farelos pras pombas na Redenção, vontade de gargalhar que nem Gato Félix, e depois chorar, chorar na cara de todo mundo, chorar muito, inundar a roupa dos outros, e então voltar a gargalhar tudo de novo, tapando a barriga com a mão pra tentar amenizar a dor dos músculos flácidos de tanto se encadeirar pra ter canudo, até que por fim, e enfim, tudo caia, eu, o mundo caia, tudo exausto no chão, nauseados de brincar de fantoche faz-de-conta da escolinha feliz.


faz-de-conta, faz-de-conta, é tudo um faz-de-conta, ô dona mestra diplomada, então faz isso, faz de conta que eu já morri, e me esquece, mas antes só mais um pedidinho: deixa eu vomitar meu vômito em paz de marionete dos olhos de vidro do açúcar queimado e me sentir mais leve sem ao menos ter um trabalhinho antes de ter o último treco? posso? posso entregar o trabalhinho lá, no oitavo círculo do inferno? é só mais uma semaninha, mestra. (os pecados já são tantos mesmos que tem elevador direto.) hãm? que tal?

eu cumpri os protocolos, ajoelhei nas tampinhas da ABNT e os escritos simplesmente sumiram! eu passei noites escrevendo coisas e mais coisas sobre coisas e elas desapareceram! simplesmente desapareceram! eu tenho vontade de gritar dentro daqueles corredores encerados do feudo e acabar de vez com a paz, com a vida perfeita de castelo de Caras daquelas diabas travestidas e sair de lá mesmo que seja amarrada em camisa de força, para pelo menos nunca mais ser importunada com balelas de lingüiça da Lebon Sourbone Lacre da Razão! nunca mais!
sim, eu admito, eu sou mari, a marionete, que por acaso, ou quiçá, ironia do destino, chegou no final do game.


...

..


cara, achei! achei os arquivos. eles estavam na minha frente e não sei como eu não enxergava! ali, bem ali, saltando nas barbas do meu real!

então, agora depois te ter reescrito tudo isso durante umas duas horas, eu te pergunto:
acaso venci?


hauahahahahahauahauab
hahahauahauahauahauuau
hauahauahaiuahauahaha
hauahuahauahauahauahua
hauahahahahahauahauab
hahahauahauahauahauuau
hauahauahaiuahauahaha
hauahuahauahauahauahua
hauahahahahahauahauab
hahahauahauahauahauuau
hauahauahaiuahauahaha
hauahuahauahauahauahua



ou fui vencida?



pelo demônio?
hahahahaha
hohohohoho
hahahahaha
hohohohoho

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Ônibus


Olhos descuidados que se entrecruzam...
Um cheque de intenções emergentes colorindo meu
caleidoscópio de emoções veladíssimas na cristalina
retina do cotidiano fato convergente

Instigante deleite ao pensamento
Olhar a paisagem como álibi dissimulante
Um desvio blasé em direção ao vento
Linguagem sutil: um olhar no relógio, janela trancada
uma ajeitada no assento

Ah que loucura! Upa lá lá!
Tens medo?
Me encanta o infame mistério

Tecendo delirantes terceiras intenções
Atrás de pequenas cílicas pulsões
Daquele olhar tão sério...

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Olha o alter-ego aí gente!


Alô povão agora é sério!!!

Olha o alter-ego aí gente!

Chora cavaco!

Cansei do carnaval das identidades
Todos os foliões jogando serpentina na avenida das virtualidades e sambando o compasso da cidade ilusória.

Máscaras fotoshopadas impulsionam histórias embaladas em tecnológicas emoções que não rodam em Linux

Um libelo ecoa pelos k bytes contra a mecanização dos viventes

Em relações que explodem um ideal onde o palpável-real vai se tornando distante ou ausente em projeções que desviam o sujeito do mundo concreto.

Mesmo assim, resisto aos embates de lança em punho, olhar sincero, verbo livre, amor direto.

Sem tantas reprimendas internas e tantos escudos externos que não protegem as artérias de contendas ao toque do pêlo aos poros.

Apenas sublinham um senso que se pensa seguro
Contingências criadas pedra a pedra que cercam um pequeno castelo de sonhos com muro auto-preservação.

A menina de sardas no nariz

Ele mal ouviu o que foi falado na reunião. Instruções lhe eram dadas, dicas, orientações, todas explicadas com um manual em mãos; e ele quase não prestou atenção em nada. Parou de ouvir quando ela entrou na sala e sentou na mesma fileira em que estava, do outro lado do corredor. Ela era linda e o deixou hipnotizado, bobo e desatento. Tudo que ele conseguia fazer era olhar para ela, que, por sua vez, nem o notou. Seus cabelos castanhos e levemente ondulados, traços delicados, sardas no nariz e o corpo magro, porém com todas as formas generosas o faziam pensar que a tinha desenhado em sua mente e estava tendo algum tipo de alucinação. Passou aquela hora inteira admirando aquela que poderia até ser uma projeção de sua imaginação, mas que calhava ser real e estava ali, a um corredor de distância, vestida em um estilo interessante, que ajudava a despertar ainda mais sua curiosidade sobre quem era aquela menina.
Deixou o local sem saciar nem um décimo sequer de sua curiosidade. Não trocou olhares com ela e nem sabia seu nome. Apenas guardou aquela imagem na lembrança, desejando vê-la outra vez, para que pudesse descobrir se a realidade se encontraria com sua imaginação de maneira harmônica. Deixou o tempo passar. Deixou que os meses trouxessem novidades para ocupar o espaço da perda de tempo que era pensar naquela menina de sardas no nariz. E os meses, de fato, trouxeram boas novas. Emoções diferentes que tiveram espaço suficiente para iniciar e terminar. Algumas desaparecendo, outras se transformando. A imagem da menina, porém, mesmo que ainda um pouco fraca, continuava lá, impressa em sua memória.
Eis que um bom tempo depois, ele a viu novamente. Lá estava ela, linda como antes, do outro lado da sala. Ela olhava em sua direção, mas não parecia estar olhando para ele - ou ele evitou acreditar que ela de fato estaria olhando para ele. Parecia estar olhando para o nada, com o pensamento longe. Ele olhou reto em sua direção e, tomado por uma força maior do que sua própria capacidade de discernimento, resolveu levantar e atravessar a sala para dizer 'oi'. Foi bem recebido, afinal era eloqüente e descontraído. Ao conversar com ela, olhou em seus olhos e notou que eram azuis, de uma tonalidade linda, e eram enormes - ele adorava meninas com olhos grandes -, talvez tão enormes quanto sua personalidade, que lhe parecia agradável.
Era estranho, porém, ter aquela expectativa toda a respeito de alguém que nem sabia que ele existia. Ele percebeu na hora o contraste absurdo entre o que estava acontecendo e o que ele gostaria que acontecesse. Sabia que para ela aquela conversa era nada além de uma tentativa de fazer amizade. Ciente disso, ele não quis parecer nenhum tipo de louco, que havia desenhado alguém em sua mente e projetava nela. Resolveu se livrar de suas projeções e tentar perceber o que de fato era real. E gostou do pouco que pôde conhecer da menina. Achou seus gostos interessantes e até um pouco compatíveis com os dele. Desejou ter conhecido mais do que teve a oportunidade de conhecer. Quis saber de camadas mais profundas da personalidade dela, mas infelizmente se ateve ao superficial, pois tentou deixar a expectativa de lado e agir como se age quando se conhece alguém novo. Considerou a hipótese de ela nem sequer ter interesse algum, não partilhar da mesma atração que ele sentia. Não podia, contudo, evitar de olhar para ela e imaginar que talvez ela fosse do jeito que ele gostaria que a menina de seus sonhos fosse. Isso soava exagerado, ele sabia, mas a sensação era a de uma ilusão gostosa.
Entretanto, não foi além disso, de algumas horas de conversa informal que o deixaram novamente com aqueles desejos - talvez um pouco diferentes, mas da mesma sorte - do dia em que a viu pela primeira vez. Agora era a vez do tempo entrar em cena e surpreendê-lo novamente. Decidiu imprimí-la mais uma vez em sua memória e esperar. Pretendia dar os 'empurrõezinhos' que pudesse para que as circunstâncias a colocassem novamente em seu caminho, mas lembrou que a expectativa doce era toda e somente sua. Foi viver emoções diferentes, novas, pra passar o tempo até que a menina de seus sonhos o hipnotizasse novamente - com aquele ou qualquer outro rosto, com ou sem sardas no nariz.


*Postei este texto originalmente no blog que mantenho com meus amigos Karina e Alexandre, mas acho que ele também merece ser lido em outros lugares, por outros leitores.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

perder palavras - I

Todo mundo tem uma sensação que causa agonia só no simples pensar de algum fato. Eu tenho umas duas e, por sinal, bem conscientes. A primeira é sonhar com pessoas que ficam perseguindo, e por mais que tu peça para que se retirem, ou vão embora, elas tornam e se moloidar e ficar e ficar na volta. E então tu implora, empurra pra fora da tua casa, e aquele corpo amortecido fica ali, no mesmo lugar, custa a se mexer e nada de vencer a inércia. Então, tu faz diferente, e, na iminência de que aquele desejo de se livrar da coisa se consume, e surta de vez algum efeito, tu acompanha o ser até algum ponto de táxi, ou de uma esquina; mas em vão; e ele torna a voltar e tocar na tua campanhia.
Cara, isso é uma coisa que me causa um baita pesadelo. Aliás, isso é algo muito recorrente e que uma vez por mês permeia meus R.E.M.s. E, nessas horas, a redenção maior, por mais que a devoção ao mundo onírico seja o carro-chefe da minha existência, é quando acordo e percebo que nunca a realidade foi tão bem-vinda em minha vida.



Outra coisa que me dá vontade de me rasgar ao meio, gritar, bater os pés no chão feito criança surtada até que a jugular e a veia da testa saltem em relevo, é perder palavras. Cara, perder palavras é um troço pedreira, viu. Compulsório funeral travado com a memória.
E digo-lhes, entre sonhar com o perseguidor da campanhia, e perder palavras, prefiro três sonhos subsqüentes com a besta reincidente, do que perder palavras sem ter CTRL+Z salvador.
Então, em minhas pesquisas por digestivos culturais, me deparei com a experiência de Lawrence e sua perda de palavras.
Lê e vê. E, se der barato, pensa só que baita agonia.


Em 1919, T.E. Lawrence (1888-1935) já tinha completado oito dos dez volumes de seu Lawrence da Arábia. Numa viagem de trem entre Londres e Oxford, parou para tomar um café na estação de Reading. Lá deixou, esquecido debaixo de um banco, o saco que continha os manuscritos. Quando se deu conta e telefonou para a estação, alguém já tinha levado o saco. Os originais nunca apareceram, e Lawrence teve que recomeçar do zero. Os primeiros volumes só foram publicados em 1922.



que tal?
já pensou se é contigo?

não era pra ser agora, mas foi já

pinto um olho punk
preto não sai do figurino
darkness under the sun.
mas nada impede que:
me bronzeie igual-igual.

lembrei daquele velho jingle
"sem medo de ser feliz"
(utopias perdidas)
e lembrei de outro, Paralamas
( no melhor disco, por isso só vendeu 50 mil)
"eu tenho cagaço de descer ladeira abaixo
eu tenho cagaço de pensar demais"

eu tenho cagaço de cair no cangaço
eu tenho cagaço de dar o primeiro passo

hoje, cristalinamente, I have (t)fears
hoje, mansamente, I have (f)tears

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Ultimatum


ATENÇÃO!


Proclamo em primeiro lugar,


A LEI DE MALTHUS DA SENSIBILIDADE


Os estímulos da sensibilidade aumentam em progressão geométrica; a própria sensibilidade apenas em progressão aritmética.


Compreende-se a importância desta lei. A sensibilidade - tomada aqui no mais amplo dos sentidos possíveis - é a fonte de toda a criação civilizada. Mas essa criação só pode dar-se completamente quando essa sensibilidade esteja adaptada ao meio em que funciona; na proporção da adaptação da sensibilidade ao meio está a grandeza e a força da obra resultante.

Ora a sensibilidade, embora varie um pouco pela influência do meio atual, é, nas suas linhas gerais, constante, e determinada no mesmo indivíduo desde a sua nascença, função do temperamento que a hereditariedade lhe infixou.

As criações da civilização, que constituem o "meio" da sensibilidade são a cultura, o progresso científico, a alteração das condições políticas (dando à expressão um sentido completo); ora estes - e sobretudo o progresso cultural e científico, uma vez começado - progridem não por obra de gerações, mas pela interação e sobreposição da obra de indivíduos, e, embora a princípio lentamente, breve progridem ao ponto de tomarem proporções em que, de geração a geração, centenas de alterações se dão nestes novos estímulos da sensibilidade, ao passo que a sensibilidade deu, ao mesmo tempo, só um avanço, que é o de uma geração, porque o pai não transmite ao filho senão uma pequena parte das qualidades adquiridas.

Temos, pois, que a uma certa altura da civilização há de haver uma desadaptação da sensibilidade ao meio que consiste em seus estímulos - uma falência portanto. Dá-se isso na nossa época, cuja incapacidade de criar grandes valores deriva dessa desadaptação.


(A seguir..... Ao final deste Ultimatum reserva-se uma surpresa. Boa noite a todos.)
Véia do Bonfa

Agora eu também tenho poder!

É com muito orgulho que eu venho fazer parte deste mundo aqui, cheio de gente interessante e boas idéias. E tudo que eu quero é contribuir aqui com idéias não menos interessantes.
Obrigado Mari, pelo convite. Juro que vou buscar palavras inspiradas para ilustrar a parcela de espaço que aqui me foi cedida.

Agora o que me resta é recostar na cadeira e colocar a cabeça para funcionar. Enquanto esse processo não traz frutos, me resta agradecer e deixar aqui meu sorriso.

coisas de Führer

Hoje eu conheci o o blog coletivo do Luís Fernando. E o interessante de estar falando sobre isso é que quando eu recebi o mail com o endereço do domínio aludindo ao hitler, estava em uma sala com acesso negado ao domínio blogspot (engraçadas essas faculdades modorrentas, que vetam essa útil ferramenta importantíssima para nós, estudantes). Então, na saleta do téc-téc acadêmico, apenas li a divulgação do novo sítio, sem poder momentâneamente navegar por aquele gueto.

Poderes, confesso, no momento em que li o nome do nazi no mail do Fernando, me deu uma vontade louca, daquelas com ganas de dentes (impulso, esse, incontrolável por razões mui, mui ocultas, que poucos, pouquíssimos sabem o motivo) de afundar teclas na hora, indagando-o, a la faca na bota, sobre o tal conteúdo a ser disseminado. Mas segurei a onda da impulsividade do cosmos que anda beirando o áries; lembrei do Pondera, R$ 80,00 pila a caixa, e *Heloim Sheli! há de se fazer jus às boletas! E...
e hoje, eis que admito- valeu a pena, me surpreendi adentrando aquele campo, uma Treblinka, diferente porém daquela formatada sob os moldes da minha mágoa recalcada,- ali, uma Treblinka colorida e que muito me lembrou àquela revista maravilhosa, a Bizz, que não sei por que cargas d´água extinguiu-se do main stream midiático há alguns anos atrás. Aliás, eu sei por quê. Por que nesse país só vinga lixo, tchutchucas da vida, teta de fora e bunda de amora quando se é pra falar de música.

Não vou ser radical, cumpre-me reconhecer que às vezes há umas coisas boas também, como a revista Aplauso, por exemplo; todavia, como nada é perfeito nessa vida, o único problema é o revestimento bairrista gritantemente estampado em verde limão da magazine. Reconheçamos, gloriosos e majoritários sócios do paralelo 30°, nós gautchos, somos cowboys, cowboys irredutíveis e não tão diferentes assim dos bebedores de whisky-cowboy do bom e velho oeste. Machistas, auto-referentes, coçadores de saco sob o pretextável disfarce de cãimbra na virilha e achadores de sermos Os Tais por ter, na retaguarda histórica, trilha sonora de estalantes ricocheteios de boleadera em meio à defesa de fronteiras sobre patas de cavalos. humpf! grande coisa. grande! grandes bolotas viris, digníssimas de estudo científico por causar peito de pombo. peito inchado de um orgulho que brota do vácuo. pra mim, e isso ninguém vai me dissuadir, isso é causo sério pra estudo!
(e vale para as mulheres, vítimas partícipes do provincianismo, também).

Tá, então para finalizar a introdução à explicação do motivo do meu haikai, nada mais justo de que ele. sim! enfim ele. o Haikai, oras.



era palhaço
aniquilava meu mundo
a largo passo

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Reza a Vela

Cospe fogo o arauto contra prolixa dislexia dos canonizados em esfinges e seus santuários herméticos onde labutam tais iniciados. Um eterno desacordo entre as palavras sagradas e o lirismo puro e claro dos pagãos incitados ao dogmatismo mercantil cronomonetário.

Não penso, logo desisto. Copio tudo direitinho pra transcrever o correto na balança final. Uns arbiotários enganam que ensinam e, os bisonhos seminaristas sacrários vomitam o mesmo terço, rezando igual ao das pontífices autoridades.

Tudo religiosamente normalizado, pequenas obscenidades da liturgia cotidiana destiladas em meta-exorcismos de tantas sacralizadas inutididáticas insanas.

Alguns anos de genuflexório põem, sem problemas, em evidência os novos doutores de canudo e pedabobas pseudo-heroínas do apertar parafusos do sistema. Mais alguns rezadores a entorpecer mentes voadoras na brasa xilocaína. Rezam as práticas pra seu glor(insosso)çobrável suor de cada dia azeitar e mover as poderosas máquinas da Nova (des)Ordem Mundial.

Misericórdia senhor! Ui, ui, tenho medo. Trago estacas, alho, crucifixo e rosário nos dedos. Digo Cruz em Credo saí exu da Quizumba! Atiro água benta, faço promessa, santinho na carteira, cachaça barata em beira de estrada derramando pipoca na macumba.

O que mais eu faço?! Sinceramente já não sei, não sei... Clamo obstinadamente ajuda dos Deuses e alguns poucos adjuntórios clarividentes enquanto entidades pegajosas me desbundam a resposta insofismável iguais aos mesmos ectoplasmas deprimentes (a)lunos:

“Sim Sr., fazer-vo-lo-ei...”

*(a) luno: ser desprovido de luz

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

fátuos fatos

me deu vontade de vale a pena ler de novo, porque comecei a pensar nisso de novo. ah, e claro, para fazer uma ode a quem anda desaparecido, timidinho; contudo, ainda navegador de nossos mares.



A literatura brasileira tem um peso considerável quando tento, em vão, eleger os meus escritores favoritos; entretanto, não posso deixar de confessar que tenho uma particular inclinação à literatura portuguesa. Gosto aos cântaros da maleabilidade do português de Portugal, por entender, que a linguagem daqueles mares e fados apresenta-se beeeeeem mais alongada do que a nossa. Isso não quer dizer que estejamos aquém do falar ou escrever lusitano. Não, não é isso. Acontece que as línguas são como seixos de um rio - quanto mais tempo transcorrido de seu uso no falar, mais alcance cognoscível de explicar um pensamento abstrato ter-se-á. Logo, é cabal, as pedras lingüísticas tomam formas assaz arredondadas quando a aguaceira passa por elas há mais tempo no tempo.



Gosto de todos os falares desse mundo,- das nações mais literárias do velho mundo às mais ágrafas da África. Porém, arrogo-me o direito de perceber que, quanto mais recente o estágio de formação de um idioma, mais abruptas lhe são as formas lingüísticas, o que, uma vez estando dentro do viés literário, estão próximas, pertinho, pertinho da oralidade. Ou seja, ler um livro assim, acaba causando a sensação de como estivéssemos ouvindo uma conversa.
Mas vejam bem, quero deixar bem claro: jamais querendo insinuar com isso que belas não o são essas letras, pois há interessantíssimas obras angolanas, Luuanda, de José Luandino, e moçambicana (essa é doidera pura), de Couto Mia, em O último vôo do Flamingo, que nas prateleiras estão para fazer jus às minhas palavras de agora. E, nossa! dá para aprender muita, mas muita coisa com esse estilo. Aliás, essas leituras são uma aula velada de encorajamento a perder o medo do fazer escrito "assim-ou-assado, professor?"
Ei-los à nossa espera, nas prateleiras de nosso trópico. Sim, ei-los, lolas e lolos ... ah, apenas para não ficar tolos.





sábado, 3 de novembro de 2007

tcc

esses trabalhos de conclusão me levam à conclusão de que o cão is on the road em uma pusta estrada sem "v"de volta.

as digitadas frenéticas conduzem aos mais variados estados de espírito, e, acaso tivesse a oportunidade de fazer comparações libertinas, a um belo arco-íris essa compulsória lisergia eu o faria...

ah, os matizes são os mais variados. só que ao invés de cores em gradação, há espécies patológicas de regressão: surtos psicóticos, ânsias de vômitos, falta de sono, abstinência vital e todos os demais signos linguísticos com a terminologia " al"...

olhares esgazeados ao infinito, risos confundidos com choros, unhas sabuguentas atoradas por dentes em eterno arranque, enfim, uma vasta mistura riquíssima de um jamais vivido gênero mental aniquilatório.



em suma: marionete entrando pro sistema.


sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Eu corei pra vida como se tivesse, de repente,
Uma vergonha do que ela pensa de mim.
Eu sei, a vida não pensa, a vida é.
Boba sou eu que não sei que quem pensa sou eu.
Do meu rosto rosado, escapuliu um sorriso estranho, fadigado.
A vida não me entende, pensei. Não me quer...
[a vida ou eu???]
Ô dó! Que pecado esconder o sorriso!
Não devo, não temo. Me repito, me desminto.
De repente, as coisas são assim, preto no branco, fáceis...
De repente, a cruz ficou leve, ou a via crucis terminou e não notei.
Ouquêi.
Ergui os olhos do chão, parei de fingir que não era comigo
E brindei em copo plástico as paixões de vidro,
Que me alimentam,
Me fermentam a vida.
Olhei para frente e vi o túnel
[a luz virá depois, calmaí...]
E decidi continuar sendo louca
Assustadora, exagerada, apaixonada...
E sem modos. Completamente sem modos.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007



em casa, nenhum pão a repartir com os filhos.



em seu bolso, uma cobreada moeda havia.



todos os dentes na boca. nenhuma oportunidade na vida.



a expectativa do riso surgia das sacolas rasgadas.



todos dentes na boca. alguma esperança de vida.




quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Filantropismo

Movido pelo mais puro filantropismo literário aceito a tácita tarefa de transmitir no lirismo a parte que me cabe destilando catártico aristotélico. Reclinado, olhar distante, seta em punho, ritual quase litúrgico: meio taoísta, ou umbandista, quem sabe javista, um pouco batista, até aos sábados adventista, mas sem dízimo católico ou evangélico.

Visão periférica alerta em semi-planos inaudíveis do imediato imagético abstrato. Sigo meu ofício extra-físico de aprendiz do senso invisível do teatro da vida e seus atos: sapateiro/carpinteiro de almas.
[Nota mental: lembrando que a vida concreta, deveras insana, não precisa de pregos ou sapatos. Bom mesmo é o pé na terra, unhas negras, calcanhar cascudo, sandália havaianas...].

Todos querem um mundo focável, palpável, denotativo até nas intenções. Pois daqui, ejaculo duplos sentidos no seu mundo movido por senos, co-senos, drenos, duodenos, tubos, distúrbios e conexões. Essa é a cidade Pós-moderna em que promete-se o céu e vive-se no inferno de um mundo ilusório. Trabalhar e burilar os pecados, era o que diziam, em tempos coloniais, os que anunciavam ser aqui o terreno purgatório.

Mas, eu não caibo no seu mundo idílico e me perco na extensão do meu quarto transitório. Sofrendo a libertação das palavras, elas são minhas filhinhas doentes que satisfaço todas as vontades. Vão onde querem ir, brincando despreocupadas. Mas eu as adverti em tom severo para que não aprendam a mentir. Por isso amigo, tudo que sai daqui, é ingênuo, puro, sincero...

primeiro amor




meu primeiro amor

começou no jardim

nos domingos de manhã

me levava café

e dizia que gostava de mim



nunca sabia o que dizer

olhava pro lado

fazia cara feia

como se fosse do mingau de aveia

mastigava então

para em vão

disfarçar as batidas do coração



terça-feira, 30 de outubro de 2007

O ódio

Extrato de uma das coisas fodonas que tenho escrito ultimamente, por conta de um espetáculo que estreará em dezembro. Deixo aqui, em primeira ( primitiva mão) para que tu penses, como eu: a quantas anda o teu ódio de cada dia?
PS: escrever coisas fodonas é garantia de liquidificar a psique.


Eu venho de dentro, desse mato cerrado
que mora no fundo do teu coração acelerado
Eu saio pra fora, transbordo, feito sangue jorrado
minha lei não conhece o certo ou errado

feito touro enxergo vermelho quando acuado
devagar sinto meu punho sendo cerrado
uma palavra torta, um olhar enviesado
o sangue sobe aos meus olhos, estou preparado

empunho toda a variedade de armas na tua mão
transformo no pior inimigo aquele que é teu irmão
teu olho, perdido, não enxerga mais com a razão
tua vítima agoniza, rosna e gane, feito o mais abjeto cão

deixe que eu te tome por inteiro
faça com que o tiro atinja certeiro
eu planto corpos mortos pelo mundo, faço dele um canteiro
e faço de você, seu mais mortífero jardineiro

eu moro no escuro do teu quarto mais fechado
que existe no fundo do teu coração acelerado
provoco sem pudor todo e qualquer pecado
minha lei não conhece o certo ou errado

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

haikai da Sherlocka

Y



no alto, muitas folhas à vista
joga-as como confete
pra dar ao amor uma pista




Y

domingo, 28 de outubro de 2007

Isaura exaura


estou em cama de gato,
um pulo no ato
outra pata no rato
bem-bem esticada
mas que silada!

patas fofas de felina
entrecruzam cá e lá,
lá e cá bem rapidinho
e a cabeça pensando
lendo a charada da esfinge
e ora! disse ele:
"eu é quem devora!"

desculpa a sinceridade
sou menina fraca de trova
endurecida d´ verbos d´outrora
mas aceito o desafio
mesmo que tenha medo
de balançar-me por um fio

não! não! não!
não quero meu oco no chão!


mas hoje eu o sou o próprio
e não rebato a tua canção
com coisas de lá gelar o coração
ah, meu cúmplice da escrita
Governador Geral da emoção

hoje sou Isaura, prazer.
a escrava do canudo.
e nada mais além de tudo
a alma é buliçosa por viver


e não raro
eu me deparo
assim no más
não tendo faro
alegria?
não ria!
ao menos
tenho o dom
de arrancar-te a alforria


isso acontece quando eu sou trabalhadêra
e limpo os espelhos com cera.
mas hoje a minha senhora chamou o limpol
e fisgou os meus torpores com anzol.

puxa vida, sinhô, que besteirol!


sábado, 27 de outubro de 2007

a gata da Mariana



A gata sempre sonhou em um dia em ser Mariana. Um dia, viu algo estranho. Pensou que era uma mulhe. Porém, a transformação não foi completa. Sua aparência era apenas um corpo feminino com uma cara de felina. Era um mundo bizonho. Preferia ser uma gata novamente, pois agora era um ser híbrido e bizarro.

Quando era bicho era mais bela. Mas não podia ser Mariana pois faltava aquela bela face de sua dona.

Então adormeceu. E no despontar do dia, percebeu que tudo não passava de um sonho, de um sonho...

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Jamais silencie!

"O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem carácter, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons."
Martin Luther King

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Minuzzo´s car crash

A pedidos de Diva Minuzzo, posto por ela. Então já sabem, o escrito abaixo não é de minha autoria, e sim, dessa chata azeda, de péssimo humor nas segundas-feiras.
Todavia, vou dar um crédito a ela, em virtude do acontecido quase fatal, que desejo apenas para Calheiros.
Afinal, quando a gente gosta do ser, fica-se chateada quando ele está bege e com nuvens negras fazendo tiara no cabeção.

(ao emoldurar o bilhete, ela escreve: "Poeminha bobinho de quem está temporariamente afastada do "mundo". Que "mundo" ? E se tudo mesmo for (sur) real? Whatever...





Mari

Avancei no momento errado

Um passo a mais, poderia mesmo

Ter voado

Não o vôo de turista à esmo

Mas o vôo de pássaro machucado



Anyway

Sigo em frente

Depauperada ligeiramente

(felizmente)

O canudo é a cenoura

Que impele o burro à frente



E os clichês se tornam tão reais

Quase que me foram fatais

A pressa é inimiga da perfeição

Parente próxima da minha distração





Ane Minuzzo, em 10 de outubro de 2007.



terça-feira, 23 de outubro de 2007


Na Idade Média utilizava-se a expressão “O Nome da Rosa” para se demonstrar o poder das palavras. Ângelus Silésius certa vez escreveu: “a rosa não tem porquês, ela floresce porque floresce”. Me permito discordar do nobre pensador e refletir sobre as palavras.

Não somente a rosa, mas todas as flores tem seus motivos. A beleza não se expressa somente na alegria e felicidade, também na dor, tristeza... Então, quando a Terra chora, paisagem desolada do árido deserto ao charco abandonado ao pé do céu jogando ao inserto, de sua tristeza brotam escritos. Pequeninos círculos empetelados onde, depois da chuva, do cheiro de terra, um poema de Gaia é enviado aos pseudo-literatos terrestres. Guarda-sol à joaninhas, que em relação simbiótica movimentam a vida micro-invisível aos olhares sem fibras óticas da geração Internet.

Vem à tona também as ervas, o mato. Se tudo fossem flores não mais as sentiríamos. É preciso que haja prosa para que floresça a poesia. Assim, atravessando imensas camadas subterrâneas, magmas incandescentes, até a transpor a barreira subcutânea, uma pequena flor desafia paralelepípedos.

Avisem os navegantes!

Que parem os transeuntes, os caminhões carregados, aviões e os tanques, os casais de namorados, o esnobe endinheirado, nos motéis os amantes; o cachorro cagando, o bêbado mijando, a dondoca juntando a bosta do bicho; o velho jogando, o entediado andando e o mendigo com fome catando resto no lixo; o otimista sonhando, o suicida chorando, o caipira puxando peixe em ponta de caniço; o político roubando, o juíz apitando e o empresário de filho sequestrado fumando e pensando no inaceitável sumiço.


A Terra escreveu uma flor...

Cadê a tristeza?

sábado, 20 de outubro de 2007

eu fico imaginando o que imaginarias se acaso eu imaginasse com a tua imaginação...


sexta-feira, 19 de outubro de 2007


Inaugure yourself

Inauguram-se em minha dileta cidade dois novos templos.
Carrefour e Igreja Universal.
Construções sofisticadas, erigidas no centro do burgo.
"Os dois de consumo" penso, passando em frente, sob o sol que doura mesmo sem a literatura, especialmente sem a literatura.
Depois de uns dias fora da urbs ensandecida, curando a ferida, tudo parece tão surreal. Tipo: como assim?
As pessoas compram edredons em irresistível oferta e depois, ou outro dia, garantem um espaço no paraíso? Garantem que as naves espaciais dos seus pastores tenham sempre gás para levá-los ao serviço...da fé?
As pessoas se paramentam como se fosse aquele domingo do século passado e vão à inauguração do hipermercado. Seu olhar é faminto, e eu, curiosa ( vício eterno ) me misturo a elas. Mas a minha fome, que tanto já morou no meu olhar, se desloca para o estômago. Chego à casa materna e como duas bananas.
Puxa, há quanto tempo eu não comia uma fruta tão saborosa.
Tenho mordido outras, algumas frutas do pecado, mas sinto - o encontro não vai se dar dentro de templos não. O que eu preciso, urgente, deseperada e completamente é: minha própria história. Eu mesma. A minha verdade, e não aquela que querem que eu acredite que é a minha.
E é tão bom ficar na minha.Me aconchego em mim mesma.
É disso que tenho fome.
E das frutas maternas.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007


Em um embate sob a iluminação insuficiente, se divisava algo que ainda não se sabe bem ao certo seus rumos, seus dramas, seus amores que talvez começaram a germinar entre as esperas de um século para serem vividas em alguns pares de horas bem ao gosto da escola Belle Époque.

Intenções cheias de ardor e imaginação aguçada, parto forçado em que nasceu uma tempestade formada em ondas violentas de cortejos secretos e cuja representação apenas seria possível acaso houvesse o talento de um grande pintor.

De palavras...

Não preciso foi matar as larvas do jardim, apenas as vicissitudes inescapáveis foram as vendas que nos calaram. Tufão impaciente, em redemoinho louco por engolir ribanceiras e penhascos, não creditou na calmaria, o oposto que medra refletindo perda. Mesmo sem querer nunca calar, o aparente silêncio fez nascer algo bom,- um raro diamante, tal qual brilhante corpo celeste ao queimar na atmosfera, e polidas vejo que são essas arestas, meteórico rutilar no alcance da verdade. E mui, mui mais valiosos aqueles que vêm que a espera é o que desajusta o derramamento da alma. Projeções em corpos astrais de palavras celestes esperando o desenlace. Larvas em casulo agora em frente à face, mesmo que transparentes e não voem em tela.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

De manhã


Acordo. Enfim decido acordar e acordo em outubro. Recém vivia março e agora....
O estado livre, morno e bom que traz os sonhos teima em fugir, por mais que o queira trazer de volta.
Torço a cabeça, 5:35 no rádio-relógio.
Tenho que criar meu dia. Tenho que.
Tenho mesmo que?
No momento a única criação disponível é atirar-me pela via obrigatória da "patente" e descarregar o acumulado da noite. Jorro forte, água no rosto, sabonete líquido, produto caseiro que não ensaboa.
O que inventar para as róximas horas?
Siga os tempos esperançosos do zen e do tao: nada "faz". Nada. Apenas fica e observa, sem interferir na vida das vidas próximas.

domingo, 30 de setembro de 2007

Um pouco de magia, um passo em falso.


Acreditava piamente na magia do circo. Amava a vida performática do artista circense, nos gloriosos momentos vividos pelos artistas do picadeiro. Sentia uma certa inveja deles, por não ter, entre todas as suas habilidades, a de poder se sentir eterno em alguns poucos minutos.

A premissa de uma vida.

Como num passe de mágica, todas as coisas que perturbavam sua consciência aparentemente sadia haviam sido retiradas.

Não exatamente de uma hora para outra – até mesmo porque teríamos aí um milagre e não um passe de mágica. Tudo aquilo que vivenciou não são coisas assim tão fáceis de se apagar. Operou uma revolução; retirou aquele cancro à força, anestesia peridural: viu tudo sair. Era tanta coisa que até se admirou. Viu até o que não devia.

Saiu correndo para a farmácia mais próxima para comprar gaze. Precisava estancar o sangue que teimava em não coagular.

Coagulava em não teimar.

Sabia o que fazer e parava de fazer por não saber por onde recomeçar. Sem um pedaço de si, correrias em torno de uma busca incessante pela perfeição. “Que mundo cru-el”, pensava.

O céu era a rutilante testemunha de sua figuração no trapézio imaginário, num vai-vem de idéias, pessoas e sentimentos assombrosos. Sentia-se ora gente, ora planta em meio à tantas outras gentes.

Reticente e redundante era o tudo à sua volta. Tudo tão bem construído e tão bem planejado. “Eram para ser perfeitas as coisas”.

Iludia-se.

Cruéis eram as pessoas, mal sabia.

domingo, 23 de setembro de 2007

Especial ou espacial?

Vinda em uma semente espacial não se sabe d'onde
Perdida das mãos dos Deuses
Uma centelha divina que germina e ilumina o mundo com sua infinita beleza.
Um corpo etéreo que levita, dança em meio aos viventes que se arrastam pesadamente, cegos à tudo, indiferentes.
Só mesmo alguns poucos videntes tem o prazer da epifania extraterrena.
Teu canto ecoa além das luzes da ribalta,
nem o vácuo pra ti é obstáculo: princesa astronauta.
Despreza a gravidade mundana, entre o céu e a Terra alternando as pautas.
Conjução astral de eternidades imensas,
não discordarei do que tu pensas... tu és espeicial...

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

O Fim da Trilogia Sexual (ou o começo da odisséia)

Prá que todo esse pudor?
Nascemos e morremos pelados
E somos por natureza tarados
Então, qual é o motivo de tanto horror?

Nosso cinema é tão libertino
Fato que me causa tremenda emoção
E impõe-me, portanto, tamanho tesão
Não pode ser um mero desatino

Deixe-me ver se entendo
O motivo de tanto tormento
Vem dos Deuses e toda sua falta de nexo?

Só sei que os degraus da pureza vou descendo
E todos os insultos bravamente enfrento
Na busca de um eterno e ruidoso sexo!

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

E agora?

Tem horas que me canso
E não é revolta adolescente
Nem rebeldia ao acaso

Mas há momentos em que preciso e não tenho o que supra e cumpra seu papel de conteúdo
Me sinto só
E não curto quem não me dá eco
Tem horas que me canso
E já nem fico furiosa ou desiludida

Nesses ocasos malucos, só fico mais certa de que meu porto
É adiante.

A tristeza adulta e aguda
De quem não está aqui,
Do tronco oco do que não me possui
E muito mais
Quando estou de saco cheio...

terça-feira, 18 de setembro de 2007

palavras-licores


ele disse que eu era especial. mas houve um ligeiro equívoco; acho que trocou a palavrinha. eu sou espacial, das estrelas; porque especial, enrolado em fita é ele.



palaras-licores para o meu café da manhã
trouxeste envoltas entre mil sabores
há inclusive fumacinha de vapores!

então eu desembrulho,
pouco a pouco
vou preparando a mesa
e uma por uma
as vou servindo
estão tão docinhas
e perfumadas

hummm
já estou com sede
puxa a cadeira homi!
escolhe um cálice e não acanhe!
vamos beber algumas letrinhas
e esquecer que quando sozinhas
não podem ir longe no pensamento

um gole ali
outro gole aqui
que tal juntá-las?
tim-tim!
fazer muitas trilhas de caso pensado
e assim ler o caminho que se forma primeiro
me diz, qual letra tu começa escolhendo?



(hic! hic! hic!)

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

história antiga

pego no sono, dentro do trem
vou parar na última estação
até o cobrador sumiu, não há ninguém
redemoinho de folhas pelo chão



o vento joga papéis na minha cara
tem um com mensagens cifradas
mas um código decifro, coração dispara
tudo muito claro nas letras embaralhadas



sento por ali, é um vento de temporal
decoro as mensagens enviadas
antes que a água da chuva, proposital
deixe todas as letras apagadas



não há pressa de ir embora
não temo mais esse lugar ermo
sabia que um dia ia chegar a hora
antes que pusesse tudo à termo



de longe, apita o trem, como uma visão
levanto, a chuva dispara, ele vem me buscar
a tinta escorre pelos dedos da mão
embarco, não há mais o que hesitar

perdi, finalmente, o medo

de voltar

sábado, 15 de setembro de 2007

Terra do Horizonte




Sobrevoando o mundo

na Terra do Horizonte

Passando sobre os trilhos

Os olhos fixos no infinito

Na magia dos sonhos

É hora de voar


Sentir a brisa do mar

Deslizar sobre as ondas

Contemplando a plenitude


Fitando o olhar

Então a noite cai

E é hora de voar


sexta-feira, 14 de setembro de 2007

the collectors

tem gente colecionando certezas
eu já colecionei figurinha
papel de carta, cartão telefônico
mônica e tampinha

no limbo, em algum inescrutável reino
além
minhas coleções se perderam,
para todo o sempre, amém

agora, veja só como já parte o trem
uma por uma
as certezas
para lá
se dirigem
também

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Ups!

Acabei de ler um poema
Que adorei
Mas o lírico fica na minha orelha, cochichando
Minha prosa não agüenta o caminho até o fim
Até porque preciso ir lá fundo e minhas linhas, hoje, estão deliciosamente indecentes.
E têm menores no recinto, sentem?

Então
Melhor deixar assim
Reverberar literariamente amanhã
Num dia de menos vento.

(silêncio)

Rima expectante

sol à pino
tricotando a mioleira
às vésperas do desatino
ando sem eira nem beira

um semi-deus se traveste de menino
eu sobrevôo,voyeur faceira
aguardo o momento vespertino
e desfraldo, bem à vista, a minha bandeira

Anne

eu sou anual, eu sou cocoon



um semestre puxado. são com essas palavras que eu poderia resumir os últimos cinco meses da minha vida. agora posso fazer os balanços acerca desse fugaz e bem aproveitado ano de 2004, vivido em todos os matizes de sua magia como se na máquina do tempo eu entrasse, parando vez outra em lotéricas, anotando os números vindouros, e vivendo de alguma forma, o sumo resgatado dos vinte e poucos pintados a dedo com aquarela infantil em vidro de escola.

meti os pés pelas mãos. me permiti ir à breca com jeito de moleca sem me importar em rebater sempre a peteca. fiz bobagens deliciosas e outras indizíveis até pro psiquiatra. ri muito, de rasgar o rosto ao meio e separar as duas metades pra cada lado. estudei língüística às turras e descobri os incontáveis universos existentes no cerne dos nossos tantos Brasis. ah, se valeu. ganhei pouco, gastei o que tinha sem badalação e ainda fazendo reservas às escondidas de mim mesma e...

votei, báh, votei no fogaaaaaça! ora vejam os rumos de uma petista filiada.



me desapeguei das coisas materiais. surpreendi algumas pessoas com coisas ruins, mas de todo verdadeiras. fui, de igual modo, surprendida por outras, de maneira singela e tocante, - um cartão em papel reciclado com letras lindas evocando felicidade e muita loucura até a cova; ah, e outro, tão bonito tanto quanto este - um envelope repleto de dizeres de amor e sonhos, convites eufemísticos de... coleguismo, brincadeiras, contendo canetas coloridas para usar em cada dia da semana.


esqueci de dizer alguns alôs a pessoas importantes da minha trajetória. não que eu as tenha esquecido. apenas acredito que não precisamos provar o tempo inteiro que estamos aí, no output real do cenário, estampando manchete semanal, mensal, pernoital, seja lá de cara bonita ou como o diabo for. eu vivo no input imagético e é isso que vale: a minha consciência de ser anual. na verdade, eu queria ser um cocoon brilhoso em água de piscina morna. esse é meu sonho momentâneo - ser cocoon. um cocoon anual.


briguei escorpioninamente com um ser em particular, atingindo em cheio seu coração com palavras bem combinadas em um misto de vingança e justiça módica ao meu ver no mercy, para me aliviar dos malditos pesos mortos nos bolsos da alma.
se me arrependo? ai, pensando bem, sim e ao mesmo tempo não. era um veneno forte, com muitos quês de mágoas amargas e tinha de sair das entranhas pra fazer vibrar a tensão superficial do açude de uma narcisa lá, equivocada por excesso de luz - camera - ação, mamãezinha!
(sorry, bündchen, mas eu cago e ando pra languidez do teu jeito artista conjunto-vazio).


anyway, fiz misérias, descobri cafofos, bueiros, sorrisos impagáveis de menino bonito que o mastercard não arrebata nem com lance final de bill gates. fiz um projeto que me fez crescer em muitos planos. gabaritei a última prova tola e a catarse se deu na quarta às 22 horas e 23 minutos em 1% de sociolingúística e 99% de pura inspiração, com a variabilidade lingüística de nosso vasto território, que fluiu tal qual os profusos rios, em sulcos quilométricos para a ponta da esfera da minha caneta.


já estou com saudades de estudar. já estou com saudades de algo que nem sei direito o que é. pode ser tanta coisa. mas ah, a saudade, esse sentimento gostoso dos que tem alma e às vezes sabem amar. saudade essa do lugar-comum do "só existe na língua portuguesa" (ah, não güento); mas independente disso, ela sempre me deu um amarguinho no início da faringe e fez encadear sucessões de sentimentos leves como o flutuar dos polímeros de parfum de paris.


o ciclo começa a fechar. uma outra mariana começa a nascer. e eu juro que sei, pra parir tem que ser é macho. vai doer. mas cada ano é diferente. cada dia é diferente. cada piscada é uma nova pálpebra a quedar. e sinto que tenho de ser forte e tentar não obedecer os ditames insanos do coração rebelde. nada volta atrás. e por isso eu sei, digo e repito todo o dia para mim mesma, "preciso viver um dia de cada vez", e bem vivido, com a bússola em riste para o N da rota-mente, valorizando as pessoas que fazem à sua maneira o planeta ser um pouco melhor.
hum, as imbecis? ah, sempre lembra de cumprimentá-las, mesmo que não estendas a mão. esquece o orgulho de cidadão-quem urbano e secretamente paranóico e transmite o bem. o teu bem que eu sei que existe dentro dessa caixa chamada peito.


as letras maiúsculas?
tsc, tsc. ah, isso é coisa pra se fingir que se sabe das coisas; que se sabe os saberes diplomáticos usando luvas de pelica abaixo de sol semita.


os acentos?
ora...
bom seria se fossem todos tremas; assim, os papéis escritos, as telas enletradas seriam emolduradas por uma espécie de petit-poá e não mais com esse constante background homogêneo.


feliz final de ciclos para nós.


" " " " " " " " " " " " " " " " " " " "
" " " " " " " " " " " " " " " " " " " "
" " " " " " " " " " " " " " " " " " " "
" " " " " " " " " " " " " " " " " " " "



22 de dezembro de 2004, 3:57 da manhã.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

miedo

relação complicada essa minha com as letras.

o branco do papel me cega, histórias percorrem minha mente, fazem uma bagunça federal nos poucos neurônios que se salvaram das regras de português... volto pra arrumar um acento. me perco. puta que pariu.

não consigo acreditar que as palavras de um escritor, de um simples escrevinhador, que seja, que seje, o que importa?... não me é concebível a idéia de serem apenas idéias e não parte do seu eu, tão eu, tão endo, tão inter que nem o seu inconsciente foi avisado que o caminhante noturno que toma mamadeira escondido do mundo é tão parte dele que, que, nem sei...

medo de me encontrar comigo?
coisa pouca.
qualquer dia desses me pecho com essasinha e a convido para um chocolate...

(maitê páez)

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Gramótica 2 1/2

- Mas muié nem sabe o que eu vi ontonti!
- Um largato em riba duma partilera, comendo pão com xalxixa, tomando iorgute num copinho de prástico!
- Mais é muito ladino esse largato!
- É vizinha, causo aconticido!
- Nóis vévi e as vista num avista tudo!

Humano

Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?

Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Inêssssssssssss

... um dia ela me perseguiu, só porque eu era Inês.
A Inesquecível Inêssssssssssssss - a ex.
então deixei um recado bem dado, suscinto, sob os vapores de absinto.



" na real, eu sei qualé que é do babado; essas estórias de amor de pica é de cravar mesmo...
ele te cravou e tu gamou certeiro na coisa dele. só pode. e agora, doida em delírio, busca em mim uma continuidade daquele falo pueril que, cá entre nós, era mesmo um bom brincalhão.

mas acontece que eu não tenho por aqui nada de brincalhão. só de brincalhona.
mas já que insiste e quer um lero, te deixo um bem recado sincero:

não só de utopia e arrebatadores deslizes carnais empanturra-se uma alma de mulher. há de possuirmos mais - muito mais! há de termos reinos e tapetes vermelhos.

sim, sim - trepadas dramáticas são o canal, mas apenas enquanto duram as azaléias primaveris.

e depois de tantos piu, piu, piu, piu, pius ....
assim também foi comigo -, voôu passarinho!
era a chegada do outro equinócio. tu. "


quinta-feira, 6 de setembro de 2007

7 de Setembro

7 de setembro, de fato é bem festivo.
Eu cá com meus botões, vendo tanta festa
Olho pro passado e fico muito pensativo.
Há tanques pelas ruas, velhos generais
Todos achando bonito a marcha marcial
Medalhas fajutas expostas à cumplicidade de todos os jornais
Um viva ao general! Ei!!
Um viva ao coronel! Oh!!
Lêem de improviso, discursos no papel
Bocas a mastigar frases decoradas
Abacates sangue-suga deitando falação
Honras de Estado que não me dizem nada
Não esqueço da nossa história
Seu rastro sujo manchado com sangue de inocêntes
A ânsia de Poder inglória.
Mas entre a multidão resmunga um operário:
- que gringo de uma figa, assassino salafrário.