segunda-feira, 12 de novembro de 2007

perder palavras - I

Todo mundo tem uma sensação que causa agonia só no simples pensar de algum fato. Eu tenho umas duas e, por sinal, bem conscientes. A primeira é sonhar com pessoas que ficam perseguindo, e por mais que tu peça para que se retirem, ou vão embora, elas tornam e se moloidar e ficar e ficar na volta. E então tu implora, empurra pra fora da tua casa, e aquele corpo amortecido fica ali, no mesmo lugar, custa a se mexer e nada de vencer a inércia. Então, tu faz diferente, e, na iminência de que aquele desejo de se livrar da coisa se consume, e surta de vez algum efeito, tu acompanha o ser até algum ponto de táxi, ou de uma esquina; mas em vão; e ele torna a voltar e tocar na tua campanhia.
Cara, isso é uma coisa que me causa um baita pesadelo. Aliás, isso é algo muito recorrente e que uma vez por mês permeia meus R.E.M.s. E, nessas horas, a redenção maior, por mais que a devoção ao mundo onírico seja o carro-chefe da minha existência, é quando acordo e percebo que nunca a realidade foi tão bem-vinda em minha vida.



Outra coisa que me dá vontade de me rasgar ao meio, gritar, bater os pés no chão feito criança surtada até que a jugular e a veia da testa saltem em relevo, é perder palavras. Cara, perder palavras é um troço pedreira, viu. Compulsório funeral travado com a memória.
E digo-lhes, entre sonhar com o perseguidor da campanhia, e perder palavras, prefiro três sonhos subsqüentes com a besta reincidente, do que perder palavras sem ter CTRL+Z salvador.
Então, em minhas pesquisas por digestivos culturais, me deparei com a experiência de Lawrence e sua perda de palavras.
Lê e vê. E, se der barato, pensa só que baita agonia.


Em 1919, T.E. Lawrence (1888-1935) já tinha completado oito dos dez volumes de seu Lawrence da Arábia. Numa viagem de trem entre Londres e Oxford, parou para tomar um café na estação de Reading. Lá deixou, esquecido debaixo de um banco, o saco que continha os manuscritos. Quando se deu conta e telefonou para a estação, alguém já tinha levado o saco. Os originais nunca apareceram, e Lawrence teve que recomeçar do zero. Os primeiros volumes só foram publicados em 1922.



que tal?
já pensou se é contigo?

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