terça-feira, 22 de abril de 2008

ao som de la viguela

é o sangue inanimado, insuspeitado, que volta a pulsar
alguma vida insopitável que esse vento, sonoro, veio a despertar
a vontade se ergue do leito fictício de morte
disposta a toda e qualquer cartada da sorte


dia de ventos, dia dos mortos, dia de ressuscitar
segurar firme e impiedosamente para de novo este nó atar
que seja tardio, não importa, afinal, este enlace
urge pular no primeiro trem que por essa estação passe


é o vento, com esse murmúrio secular, imemorial
que insiste em por a correr pelas veias essa vontade quase bestial
o apelo grita aos ouvidos que abandonaram a voluntária surdez
para emitir o último aviso, chegada a hora, vinda de uma vez


vento nas veias, sangue que grita pelas esquinas do corpo
sopro renovado naquilo que se julgava para sempre morto


la sangre, me ponga a cantar, tu canción de despiertar
el viento, me ponga a viajar, en tu cáncion de sangrar

terça-feira, 15 de abril de 2008

To be continued


À minha frente, uma foto de John e Yoko. Os dois, lado a lado, me lembram Vitor Ramil - “vem, anda comigo, pelo planeta, vamos sumir, vem, nada nos prende, ombro no ombro, vamos sair”. Ombro no ombro: o pouco que sei dos dois me traz essa analogia, ou algo mais piegas e sentimental, como “amar não é olhar um para o outro, mas olhar na mesma direção”. E lá estão John e Yoko, olhando na mesma direção, e eu nem era nascida. O clipe que Yoko fez sobre a canção “Woman” sempre me faz derramar umas lágrimas, em especial, no final, encerrando com aquele pungente “to be continued”, como nos seriados americanos, quando a gente fica esperando pelo próximo capítulo pra ver, pombas, o que vai acontecer. Os dois caminham pelo Central Park, belos, serenos, ombro no ombro, não se olham nos olhos - seria necessário?
É o que todos nos almejamos, afinal? É o que dá sentido, ou é apenas mais uma invenção dos fabricantes de cartões românticos? Pergunto sem querer respostas, não enviem cartas para a redação, deixem que as questões pairem no ar, como paira a foto deles no meu mural, agridoce.
Há os que conseguem, mas um tiro, um outro, ou outra, ou a falta do vil metal, ou o hábito, ou as mazelas do microcosmo do cotidiano, e tudo o mais que cada um sabe nomear sem palavras, subtraem. E o sentido, a duras penas conquistado, vai pelo ralo, junto com a água do banho. Às vezes penso que a maçã do paraíso tem gravada nela a palavra “fim”. Faz parte do esquema, eu sei, faz parte do “game”. Mas a consciência do fim, seja representado pela morte ou pelas subtrações, parece que é o que rouba o sentido.
São apenas constatações. Sem pretensões. A palavra foi feita pra isso, pra ser escrita, ouvida, falada, lida, não necessariamente nessa mesma ordem. E a palavra “amor” é mais uma.
Mas essa foto, no meu mural, me sinaliza que não, que não é só mais uma palavra, e que o passado, de gente como John e Yoko, acaba estampando uma parede de uma casa qualquer, no fim do fundo da América do Sul, porque não é afinal, caramba... só mais uma palavra.

domingo, 13 de abril de 2008

meu rewind valioso

está sendo muito difícil atualizar os blogs da vida e ter aquela mui digna inspiração à escrita, uma vez não estando como antes, no fermentado criatório beletrício.
então, só para não deixar a energia do blog se esvair... (coisa que não admito) pinço os meus textículos d´outrora, e, que nada de inédito ou maravilhoso têm; contudo, apenas refletem estados valiosos, e que muito contribuíram para a excelência do meu recorrente rewind filme da vida.



ah, coisa boa se deixar esquecer da rotina café com pão, assim como deixamos, esquecido do relógio, nosso corpo boiar nas ondinhas calmas do mar, sentido as orelhas gelarem ao ouvir o barulhinho aquático na borda da água...


abstrair o cartão-ponto e enfim... sentir que o mundo é vasto e tudo é tão bom quando podemos expandir nossos sentidos vivendo a plena liberdade, esse estado de soltura que a bíblia tanto propalou por milênios no tal livre arbítrio do ser...




agora, finalmente, deu-se a hora de entender o seu sentido em sua mais ampla concepção da palavra:

L- I- V- R- E A- R- B- Í- T- R- I- O - uma coisa esticada, alongada. boa por demais de se saber sentida.

o livre arbítrio me é tal qual o refrão daquela música:"uma cerveja antes do almoço é muito bom pra ficar pensando melhor..."

porém, tudo o que é bom, avizinha o seu fim a curto-prazo, e a consternação fica por conta da hora de perceber que se aproxima o inexorável momento da volta; e, justamente, nessas horas, impossível não pensar que os dias bem que poderiam ser mais demorados...
que fosse uma hora, duas ou três a mais em cada um, seria de um muito bom grado penhorado... já pensou? se acaso houvesse uma maneira de acúmulo dessas pequenas frações temporais?
"- ah, só mais pouquinho para a leveza do espírito!"
é, mas o implacável tempo não admite ironias... uh! e para os hedonistas então, baita padrasto.
shlap! shlap!


wake up! come back to system. life is hard, honey moon.