domingo, 30 de março de 2008



as fotos são essa coisa surpreendente de podermos ser o que bem queremos (ou não), em nossa infinidade de tantos somos...


e, no final das contas, sempre sendo um inescapável pedacinho do eu naquele instante...


tão mágico. tão louco - ser, feia, ser foda, um híbrido bom ser em uma má Jesusa Jerusa de Jerusalém.

sábado, 22 de março de 2008

O nome dele é Johnny

Há aqueles deuses que estampam, mais do que a parede ou o verso da porta do quarto, a imaginação. Estátuas hollywoodianas. Não há quem escape, creio, daquele derramamento adolescente (eu, minha irmã, minhas amigas, com pastas cheias de fotos e qualquer coisinha que saísse naquele tijolinho de jornal). E há aqueles que transcendem o papel de deuses que nem pediram e passar a habitar outro departamento da imaginação, um departamento mais escondido, mais precioso, mais salvaguardado com um certo ciúme até. E os deuses deixam de ser deuses - afinal, essa denominação acabou por se tornar tão clichê - e passam a ter outra simbologia,mutante conforme o talento deles manipula.
E chego então a um nome: Johnny Depp.
Ele não tem um rosto perfeito, um físico avantajado, uma barriga esculpida, olhos azuis e nem, felizmente, uma bandeira dos EUA fazendo as vezes de terceiro olho. Mas eu ouço, na sala de professores, na sala de espera da dentista, na fila, na amiga da irmã mais velha,sempre um.. aaaaaahhhh, o Johnny Depp.
Ele não é...lindo?O melhor tipo de beleza,disparado: a que não era pra ser e não adianta, é, e é demais.
Gosto de atores que vivem os personagens mais absurdos como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo. Gosto de atores que sabem dizer um texto. Gosto de atores que aceitam o pacto. Que bancam. Que fazem disso uma profissão, e não uma chuva de arroz de festa. E ele, no universo dark de Tim Burton,em Sweeney Todd - de uma plasticidade deslumbrante e sinistra - desliza como uma sombra fluida. Com o devido desconto que esse universo tem de atração para mim, e de o filme por momentos ser arrastado, é algo que alivia: ver criadores forjando criaturas em meio ao nonsense que nos oferecem assim com tanta naturalidade. Uma fábula que é crível porque os atores, o diretor, o escritor, todos acreditam. Quase como um conto de fadas, porém macabro: sabe-se que não é de verdade, mas a imaginação dá conta e faz com que seja, e o melhor sonho mesmo é aquele que a gente tem de olhos abertos.
Alguns diretores sonham e filmam de olhos abertos, alguns atores se prestam e compactuam. É um ofício meio foda às vezes: o corpo, a voz, tudo é emprestado, e depois pode vir o vazio quando tudo termina e o personagem tem que desencarnar. À medida que Johnny Depp foi se tornando o que é, seus personagens foram crescendo na mesma proporção que a sua "celebridade" foi se tornando mais discreta. Vamos olhar mais atentamente: quais os atores que menos frequentam as revistas de fofoca e celebridade, pelo menos voluntariamente? Isso é mais do que coincidência. Não pretendo ser radical neste ponto, mas...
Sweeney Todd, o barbeiro demoníaco, é sanguinolento na medida em que o sangue pode colorir aquela melancolia intrínseca que reside numa vingança. Me lembra Victor Hugo, me lembra o pedaço de dor que a injustiça crava sempre; é um clássico de nascimento, delicado, doentio, lírico e absurdo. Coisas assim, que fazem uma ida ao cinema um escape da vida chamada "real" que cada vez imita menos o que a arte tem de bom...
Mas isso é outra história.
Mas, gurias (e guris, why not?), voltando ao Johnny - ele não provoca gritos histéricos. Mas sim, fundos suspiros.
Aaaaaaaaaaahhhhhh.
PS.: Há também Helena Bonham Carter, que adoro, e um menino que bota todo o elenco no chinelo quando abre a boca pra cantar. E o figurino, ah, deslumbrante. A Mariana bateria muitas fotos incríveis.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Indisposta pra Maquiagem

Chegou à hora do imediato irreversível irrevogável.
O rangido da porta fechando anuncia em trilha sonora.

Réquiem para o momento esperado, provável, protelado.
Objetos sem vida agora estáticos arautos de tantas intimidades cotidianas.

O frio do fogo-morto da lareira sem vida.

O Nazareno, na parede, abandonado pela autoridade divina,
não responde...
Espera pacientemente pelas palavras corretas.
Apenas um humano pregado a dois pedaços de madeira.

Nem cor, nem som, nem braço,
Longivamente apenas áspera cadeira altruistamente estende seu bucólico cansaço.

Mau cheiro, poeira, flores de pétalas pendentes ao solo. Reclinadas como viúvas cansadas, indispostas para maquiagem.

Falta do porvir, nostalgia do que não foi, fragmentos seccionados no espaço. Subjetividades intraduzíveis em profundas cicatrizes sob marcas intermitentes digitais de um último abraço.

Tudo um dia se põe... Tem que ir...

Junta a roupa, baixa o armário démodé, muitas gavetas... Muitos cabides... Muitas gavetas!

Lembranças... Em tendências “vintage” da moda vacilam.

Lingeries experientes, camisolas coloridas, calças bem vividas,

E as traças conspiram...

Chove lá fora.

Gotículas fugitivas: o balde contém, o travesseiro transborda.

A vida segue, deve seguir.

Banheiro pesado, banho abafado, o chuveiro cansado, o pêlo grudado ao sabão não enoja... Recorda.

A Fantástica Fábrica de Chocolate




Catatônica televisão: crimes banais, dilemas patriarcais, conversas de botas batidas de colméia, zangões, abelhas, flores de Eucalipto ou Laranjeira e incontáveis jardins triviais.

Arquétipos e status, um carro novo ou sapatos que amargam carnês e adoçam a vida.

Frases de efeito, mensagem subliminar.
Estratégia antiga.

Saúvas na Terra da música.
Gafanhotos que não sabem cantar.

Propagandas de açúcar

Pra homens-formiga.