sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Perder palavras - III

Tu passa dias e dias, toma grande parte da existência para dar vida às palavras, deixa de estar com pessoas, deixa de sair, de pegar um sol na pele; enfim, tudo para se dedicar a um grande propósito. E então, de repente, vupt! as escrituras se perdem.
Saibam, que essa tragédia é mais comum do que se pensa, e não acontece só com quem não faz back up no computador para se salvaguardar dessa obscura probabilidade.


O célebre dramaturgo Jean-Baptiste Molière (1622-1673), além de autor e ator de peças de teatro, era também um expert em cultura clássica, e passou alguns anos dedicando-se a uma tradução do livro Da Natureza das Coisas, do poeta latino Lucrécio. Molière era também um homem vaidoso, e não dispensava a peruca cacheada tão em moda na sua época. Um dia, porém, descobriu que seu criado vinha usando as páginas da sua tradução para fazer os rolos de papel necessários para manter a peruca em ordem. Enfurecido, queimou o resto das páginas e abandonou a tradução.


Bah, já pensou se é contigo?

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

O Segredo


O mistério do mundo me assombra...
O seu mísero desejo de consciência:
Ciência, racionalidade, conveniência...
A contingência da verdade!


Tudo do nada? E o nada de onde?
Evidente problema!
Pois que peguem seus tubos de ensaio joguem palavras ao vento
E que se forme um poema!!


Onde há mais verdade?
No trabalho da lavadeira, no genuflexório da rezadeira ou na lida do operário?


Talvez essa seja a verdadeira essência:
nenhum desejo de consciência!
Apenas a morte caindo implacável e serena do azul
Como a fluorescência dos astros
em noites estreladas...


Ah, aquela bela frase:
“Há mais verdades entre o céu e a terra do que julgam todas as filosofias...”
Ah, nossos tempos modernos inverteram a lógica em pura anacronia!

Pois se tu vivesses hoje em meio a cegueira dos iniciados escreveria:
“Há mais mentiras que verdades...”


Que continuem buscando a verdade em suas parcas teorias.
Nas religiões, Filosofias do mundo, nas ruas da cidade...
Jamais, nenhuma delas,
terão tanta verdade, nem tão pouco a seriedade,
das crianças quando brincam...

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Tons


Em cada dor: uma partida

Em cada cor: um recomeço

Em cada tom [eu reconheço]

A eterna mudança da vida...

sábado, 24 de novembro de 2007

Mentiras sinceras

Mentiras sinceras muito me interessam.

Sussurros norteadores que revelam o que se é displicentemente.

Alguns pequenos passos ao espaço literato escondem o ego acendendo incenso perfumado em palavras que instigam o paladar dos viventes pela subjetiva sinestesia do olfato.

O devir, espaço eqüidistante da mão ao papel é um hipotético arco-íris de cores a serem psicografadas da alma como trabalho de criança [empunhando lápis de cor, canetinha, giz de cera] ainda por colorir.

Que caiam por terra todas as verdades auto-suficientes!

Palavras-ícones imóveis que confortam tantas mentes em status correto de bom expectador.

Arquétipos pré-moldados sobre imensos alicerces fabricados onde a dor subsiste na utopia dos padrões de felicidade e satisfação.

Meu ébrio equilíbrio de convicção esferográfica revela e disfarça o que fui e o que não sou: um mentiroso velado cheio de boas intenções.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

perder palavras - II

justamente, andava pensando tanto nessa questão de "perder palavras", que o pensamento resolveu se concretizar; virou ímã; o único porém que me cabe ressaltar é que já haviam outros textos desse mesmo assunto, na frente deste post baseado no agora agorinha da louca aqui; então, só pra variar, resolvi guinar o trajeto e meter a carreta na frente dos bois, ah, apenas para não desvirtuar muito do caminho natural da desordem e continuar sendo fiel ao meu o instinto caótico que se recusa em adormecer com a idade.

por esses dias de novembro que aos poucos já começa a se avizinhar em tempos de dingobél, faço uma retrospectiva à cesta básica, antes mesmo de chegar no dia 30; e, de antemão bem rapidinho, concluo: andei tão sem tempo, que, no final das contas, nem acaso o houve para falta dele sentir e me enleiar com a escrita.
é, as últimas semanas têm se saído exímias Maryl Streeps, em o Diabo Veste Prada, no seu papel de Aniquiladoras Maior de qualquer sopro de inspiração divina. todavia, no ardor da peleia pampeana de quem não se entrega, eu hei de conseguir tirar alguma energia de lá, e ter, nem que seja uma míope réstia de criatividade, mesmo que seja abaixo de dias beges dias, mas não deixar jamais a energia viva morrer!

então, para aproveitar o cauldal do leite da pedra filosofal doidal, mostro-lhes a bomba que acabei de escrever para a dona Ane, programada pro bum, agora, no auge ao cubo de minha loucura (acho que também a dela) pelos os estafantes prazos de entregas dos trabalhos acadêmicos. well, apenas espero reler isso um dia e verdadeiramente achar graça desse estado de espírito que vem se agigantando ao tomar as rédias do meu autocontrole a cada badalada a menos nessa contagem regressiva para alforria que, toda tesa, me espera lá fora.



Ane, eu to ficando loca, mas eu não me esqueci de ti, tá? olha eu não me esqueci, agora só te peço, só não esquece de mim, e traz um gardenal na próxima aula, vamos tomar boletas para enfim sonhar viver de olhos abertos e bem calmas a liberdade que tanto sonhamos e que tanto riscamos diminuindo os dias naqueles pauzinhos desenhados de presidiárias que foram e vieram de arrasto dentro da modorra pardacenta.


é sério, preciso te dizer, preciso te dizer isso há dias, às vezes eu acho que há uma grande conspiração contra mim; eu tenho certeza de que eu faço as coisas, tenho a nítida lembrança de ter escrito algumas várias e certas bobagens incertas sobre a punhetinha solicitada pela mestra-mór e, no entanto, vou procurar o arquivo, seja no pen-drive, no pc, ou na minha memória estéril de quem já está nas últimas, e nada. vasculho várias vezes, aperto o botão da merda ampulheta do sherlock que windows resolveu tomar conta (e que de sherlock não tem é nada) e nada. nada aparece. mas eu me lembro, eu me lembro das frases, o jeito que eu tinha escrito determinada mentira ou verdade, já não importa, o fato é que eu me lembro delas em meio a esses tantos arquivos que, para o meu desespero ainda maior, só abrem em branco, e as frases então voltam na minha memória, bem do jeito, bem do jeito que eu tinha escrito sabe.


guria, descrever tal sensação de perda me dá duas, três, quatro vezes uma revolta do estômago que me sobe tudinho pra cabeça. dá vontade de sair vomitando nas pessoas, quaisquer pessoas, até nos velhinhos que dão farelos pras pombas na Redenção, vontade de gargalhar que nem Gato Félix, e depois chorar, chorar na cara de todo mundo, chorar muito, inundar a roupa dos outros, e então voltar a gargalhar tudo de novo, tapando a barriga com a mão pra tentar amenizar a dor dos músculos flácidos de tanto se encadeirar pra ter canudo, até que por fim, e enfim, tudo caia, eu, o mundo caia, tudo exausto no chão, nauseados de brincar de fantoche faz-de-conta da escolinha feliz.


faz-de-conta, faz-de-conta, é tudo um faz-de-conta, ô dona mestra diplomada, então faz isso, faz de conta que eu já morri, e me esquece, mas antes só mais um pedidinho: deixa eu vomitar meu vômito em paz de marionete dos olhos de vidro do açúcar queimado e me sentir mais leve sem ao menos ter um trabalhinho antes de ter o último treco? posso? posso entregar o trabalhinho lá, no oitavo círculo do inferno? é só mais uma semaninha, mestra. (os pecados já são tantos mesmos que tem elevador direto.) hãm? que tal?

eu cumpri os protocolos, ajoelhei nas tampinhas da ABNT e os escritos simplesmente sumiram! eu passei noites escrevendo coisas e mais coisas sobre coisas e elas desapareceram! simplesmente desapareceram! eu tenho vontade de gritar dentro daqueles corredores encerados do feudo e acabar de vez com a paz, com a vida perfeita de castelo de Caras daquelas diabas travestidas e sair de lá mesmo que seja amarrada em camisa de força, para pelo menos nunca mais ser importunada com balelas de lingüiça da Lebon Sourbone Lacre da Razão! nunca mais!
sim, eu admito, eu sou mari, a marionete, que por acaso, ou quiçá, ironia do destino, chegou no final do game.


...

..


cara, achei! achei os arquivos. eles estavam na minha frente e não sei como eu não enxergava! ali, bem ali, saltando nas barbas do meu real!

então, agora depois te ter reescrito tudo isso durante umas duas horas, eu te pergunto:
acaso venci?


hauahahahahahauahauab
hahahauahauahauahauuau
hauahauahaiuahauahaha
hauahuahauahauahauahua
hauahahahahahauahauab
hahahauahauahauahauuau
hauahauahaiuahauahaha
hauahuahauahauahauahua
hauahahahahahauahauab
hahahauahauahauahauuau
hauahauahaiuahauahaha
hauahuahauahauahauahua



ou fui vencida?



pelo demônio?
hahahahaha
hohohohoho
hahahahaha
hohohohoho

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Ônibus


Olhos descuidados que se entrecruzam...
Um cheque de intenções emergentes colorindo meu
caleidoscópio de emoções veladíssimas na cristalina
retina do cotidiano fato convergente

Instigante deleite ao pensamento
Olhar a paisagem como álibi dissimulante
Um desvio blasé em direção ao vento
Linguagem sutil: um olhar no relógio, janela trancada
uma ajeitada no assento

Ah que loucura! Upa lá lá!
Tens medo?
Me encanta o infame mistério

Tecendo delirantes terceiras intenções
Atrás de pequenas cílicas pulsões
Daquele olhar tão sério...

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Olha o alter-ego aí gente!


Alô povão agora é sério!!!

Olha o alter-ego aí gente!

Chora cavaco!

Cansei do carnaval das identidades
Todos os foliões jogando serpentina na avenida das virtualidades e sambando o compasso da cidade ilusória.

Máscaras fotoshopadas impulsionam histórias embaladas em tecnológicas emoções que não rodam em Linux

Um libelo ecoa pelos k bytes contra a mecanização dos viventes

Em relações que explodem um ideal onde o palpável-real vai se tornando distante ou ausente em projeções que desviam o sujeito do mundo concreto.

Mesmo assim, resisto aos embates de lança em punho, olhar sincero, verbo livre, amor direto.

Sem tantas reprimendas internas e tantos escudos externos que não protegem as artérias de contendas ao toque do pêlo aos poros.

Apenas sublinham um senso que se pensa seguro
Contingências criadas pedra a pedra que cercam um pequeno castelo de sonhos com muro auto-preservação.

A menina de sardas no nariz

Ele mal ouviu o que foi falado na reunião. Instruções lhe eram dadas, dicas, orientações, todas explicadas com um manual em mãos; e ele quase não prestou atenção em nada. Parou de ouvir quando ela entrou na sala e sentou na mesma fileira em que estava, do outro lado do corredor. Ela era linda e o deixou hipnotizado, bobo e desatento. Tudo que ele conseguia fazer era olhar para ela, que, por sua vez, nem o notou. Seus cabelos castanhos e levemente ondulados, traços delicados, sardas no nariz e o corpo magro, porém com todas as formas generosas o faziam pensar que a tinha desenhado em sua mente e estava tendo algum tipo de alucinação. Passou aquela hora inteira admirando aquela que poderia até ser uma projeção de sua imaginação, mas que calhava ser real e estava ali, a um corredor de distância, vestida em um estilo interessante, que ajudava a despertar ainda mais sua curiosidade sobre quem era aquela menina.
Deixou o local sem saciar nem um décimo sequer de sua curiosidade. Não trocou olhares com ela e nem sabia seu nome. Apenas guardou aquela imagem na lembrança, desejando vê-la outra vez, para que pudesse descobrir se a realidade se encontraria com sua imaginação de maneira harmônica. Deixou o tempo passar. Deixou que os meses trouxessem novidades para ocupar o espaço da perda de tempo que era pensar naquela menina de sardas no nariz. E os meses, de fato, trouxeram boas novas. Emoções diferentes que tiveram espaço suficiente para iniciar e terminar. Algumas desaparecendo, outras se transformando. A imagem da menina, porém, mesmo que ainda um pouco fraca, continuava lá, impressa em sua memória.
Eis que um bom tempo depois, ele a viu novamente. Lá estava ela, linda como antes, do outro lado da sala. Ela olhava em sua direção, mas não parecia estar olhando para ele - ou ele evitou acreditar que ela de fato estaria olhando para ele. Parecia estar olhando para o nada, com o pensamento longe. Ele olhou reto em sua direção e, tomado por uma força maior do que sua própria capacidade de discernimento, resolveu levantar e atravessar a sala para dizer 'oi'. Foi bem recebido, afinal era eloqüente e descontraído. Ao conversar com ela, olhou em seus olhos e notou que eram azuis, de uma tonalidade linda, e eram enormes - ele adorava meninas com olhos grandes -, talvez tão enormes quanto sua personalidade, que lhe parecia agradável.
Era estranho, porém, ter aquela expectativa toda a respeito de alguém que nem sabia que ele existia. Ele percebeu na hora o contraste absurdo entre o que estava acontecendo e o que ele gostaria que acontecesse. Sabia que para ela aquela conversa era nada além de uma tentativa de fazer amizade. Ciente disso, ele não quis parecer nenhum tipo de louco, que havia desenhado alguém em sua mente e projetava nela. Resolveu se livrar de suas projeções e tentar perceber o que de fato era real. E gostou do pouco que pôde conhecer da menina. Achou seus gostos interessantes e até um pouco compatíveis com os dele. Desejou ter conhecido mais do que teve a oportunidade de conhecer. Quis saber de camadas mais profundas da personalidade dela, mas infelizmente se ateve ao superficial, pois tentou deixar a expectativa de lado e agir como se age quando se conhece alguém novo. Considerou a hipótese de ela nem sequer ter interesse algum, não partilhar da mesma atração que ele sentia. Não podia, contudo, evitar de olhar para ela e imaginar que talvez ela fosse do jeito que ele gostaria que a menina de seus sonhos fosse. Isso soava exagerado, ele sabia, mas a sensação era a de uma ilusão gostosa.
Entretanto, não foi além disso, de algumas horas de conversa informal que o deixaram novamente com aqueles desejos - talvez um pouco diferentes, mas da mesma sorte - do dia em que a viu pela primeira vez. Agora era a vez do tempo entrar em cena e surpreendê-lo novamente. Decidiu imprimí-la mais uma vez em sua memória e esperar. Pretendia dar os 'empurrõezinhos' que pudesse para que as circunstâncias a colocassem novamente em seu caminho, mas lembrou que a expectativa doce era toda e somente sua. Foi viver emoções diferentes, novas, pra passar o tempo até que a menina de seus sonhos o hipnotizasse novamente - com aquele ou qualquer outro rosto, com ou sem sardas no nariz.


*Postei este texto originalmente no blog que mantenho com meus amigos Karina e Alexandre, mas acho que ele também merece ser lido em outros lugares, por outros leitores.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

perder palavras - I

Todo mundo tem uma sensação que causa agonia só no simples pensar de algum fato. Eu tenho umas duas e, por sinal, bem conscientes. A primeira é sonhar com pessoas que ficam perseguindo, e por mais que tu peça para que se retirem, ou vão embora, elas tornam e se moloidar e ficar e ficar na volta. E então tu implora, empurra pra fora da tua casa, e aquele corpo amortecido fica ali, no mesmo lugar, custa a se mexer e nada de vencer a inércia. Então, tu faz diferente, e, na iminência de que aquele desejo de se livrar da coisa se consume, e surta de vez algum efeito, tu acompanha o ser até algum ponto de táxi, ou de uma esquina; mas em vão; e ele torna a voltar e tocar na tua campanhia.
Cara, isso é uma coisa que me causa um baita pesadelo. Aliás, isso é algo muito recorrente e que uma vez por mês permeia meus R.E.M.s. E, nessas horas, a redenção maior, por mais que a devoção ao mundo onírico seja o carro-chefe da minha existência, é quando acordo e percebo que nunca a realidade foi tão bem-vinda em minha vida.



Outra coisa que me dá vontade de me rasgar ao meio, gritar, bater os pés no chão feito criança surtada até que a jugular e a veia da testa saltem em relevo, é perder palavras. Cara, perder palavras é um troço pedreira, viu. Compulsório funeral travado com a memória.
E digo-lhes, entre sonhar com o perseguidor da campanhia, e perder palavras, prefiro três sonhos subsqüentes com a besta reincidente, do que perder palavras sem ter CTRL+Z salvador.
Então, em minhas pesquisas por digestivos culturais, me deparei com a experiência de Lawrence e sua perda de palavras.
Lê e vê. E, se der barato, pensa só que baita agonia.


Em 1919, T.E. Lawrence (1888-1935) já tinha completado oito dos dez volumes de seu Lawrence da Arábia. Numa viagem de trem entre Londres e Oxford, parou para tomar um café na estação de Reading. Lá deixou, esquecido debaixo de um banco, o saco que continha os manuscritos. Quando se deu conta e telefonou para a estação, alguém já tinha levado o saco. Os originais nunca apareceram, e Lawrence teve que recomeçar do zero. Os primeiros volumes só foram publicados em 1922.



que tal?
já pensou se é contigo?

não era pra ser agora, mas foi já

pinto um olho punk
preto não sai do figurino
darkness under the sun.
mas nada impede que:
me bronzeie igual-igual.

lembrei daquele velho jingle
"sem medo de ser feliz"
(utopias perdidas)
e lembrei de outro, Paralamas
( no melhor disco, por isso só vendeu 50 mil)
"eu tenho cagaço de descer ladeira abaixo
eu tenho cagaço de pensar demais"

eu tenho cagaço de cair no cangaço
eu tenho cagaço de dar o primeiro passo

hoje, cristalinamente, I have (t)fears
hoje, mansamente, I have (f)tears

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Ultimatum


ATENÇÃO!


Proclamo em primeiro lugar,


A LEI DE MALTHUS DA SENSIBILIDADE


Os estímulos da sensibilidade aumentam em progressão geométrica; a própria sensibilidade apenas em progressão aritmética.


Compreende-se a importância desta lei. A sensibilidade - tomada aqui no mais amplo dos sentidos possíveis - é a fonte de toda a criação civilizada. Mas essa criação só pode dar-se completamente quando essa sensibilidade esteja adaptada ao meio em que funciona; na proporção da adaptação da sensibilidade ao meio está a grandeza e a força da obra resultante.

Ora a sensibilidade, embora varie um pouco pela influência do meio atual, é, nas suas linhas gerais, constante, e determinada no mesmo indivíduo desde a sua nascença, função do temperamento que a hereditariedade lhe infixou.

As criações da civilização, que constituem o "meio" da sensibilidade são a cultura, o progresso científico, a alteração das condições políticas (dando à expressão um sentido completo); ora estes - e sobretudo o progresso cultural e científico, uma vez começado - progridem não por obra de gerações, mas pela interação e sobreposição da obra de indivíduos, e, embora a princípio lentamente, breve progridem ao ponto de tomarem proporções em que, de geração a geração, centenas de alterações se dão nestes novos estímulos da sensibilidade, ao passo que a sensibilidade deu, ao mesmo tempo, só um avanço, que é o de uma geração, porque o pai não transmite ao filho senão uma pequena parte das qualidades adquiridas.

Temos, pois, que a uma certa altura da civilização há de haver uma desadaptação da sensibilidade ao meio que consiste em seus estímulos - uma falência portanto. Dá-se isso na nossa época, cuja incapacidade de criar grandes valores deriva dessa desadaptação.


(A seguir..... Ao final deste Ultimatum reserva-se uma surpresa. Boa noite a todos.)
Véia do Bonfa

Agora eu também tenho poder!

É com muito orgulho que eu venho fazer parte deste mundo aqui, cheio de gente interessante e boas idéias. E tudo que eu quero é contribuir aqui com idéias não menos interessantes.
Obrigado Mari, pelo convite. Juro que vou buscar palavras inspiradas para ilustrar a parcela de espaço que aqui me foi cedida.

Agora o que me resta é recostar na cadeira e colocar a cabeça para funcionar. Enquanto esse processo não traz frutos, me resta agradecer e deixar aqui meu sorriso.

coisas de Führer

Hoje eu conheci o o blog coletivo do Luís Fernando. E o interessante de estar falando sobre isso é que quando eu recebi o mail com o endereço do domínio aludindo ao hitler, estava em uma sala com acesso negado ao domínio blogspot (engraçadas essas faculdades modorrentas, que vetam essa útil ferramenta importantíssima para nós, estudantes). Então, na saleta do téc-téc acadêmico, apenas li a divulgação do novo sítio, sem poder momentâneamente navegar por aquele gueto.

Poderes, confesso, no momento em que li o nome do nazi no mail do Fernando, me deu uma vontade louca, daquelas com ganas de dentes (impulso, esse, incontrolável por razões mui, mui ocultas, que poucos, pouquíssimos sabem o motivo) de afundar teclas na hora, indagando-o, a la faca na bota, sobre o tal conteúdo a ser disseminado. Mas segurei a onda da impulsividade do cosmos que anda beirando o áries; lembrei do Pondera, R$ 80,00 pila a caixa, e *Heloim Sheli! há de se fazer jus às boletas! E...
e hoje, eis que admito- valeu a pena, me surpreendi adentrando aquele campo, uma Treblinka, diferente porém daquela formatada sob os moldes da minha mágoa recalcada,- ali, uma Treblinka colorida e que muito me lembrou àquela revista maravilhosa, a Bizz, que não sei por que cargas d´água extinguiu-se do main stream midiático há alguns anos atrás. Aliás, eu sei por quê. Por que nesse país só vinga lixo, tchutchucas da vida, teta de fora e bunda de amora quando se é pra falar de música.

Não vou ser radical, cumpre-me reconhecer que às vezes há umas coisas boas também, como a revista Aplauso, por exemplo; todavia, como nada é perfeito nessa vida, o único problema é o revestimento bairrista gritantemente estampado em verde limão da magazine. Reconheçamos, gloriosos e majoritários sócios do paralelo 30°, nós gautchos, somos cowboys, cowboys irredutíveis e não tão diferentes assim dos bebedores de whisky-cowboy do bom e velho oeste. Machistas, auto-referentes, coçadores de saco sob o pretextável disfarce de cãimbra na virilha e achadores de sermos Os Tais por ter, na retaguarda histórica, trilha sonora de estalantes ricocheteios de boleadera em meio à defesa de fronteiras sobre patas de cavalos. humpf! grande coisa. grande! grandes bolotas viris, digníssimas de estudo científico por causar peito de pombo. peito inchado de um orgulho que brota do vácuo. pra mim, e isso ninguém vai me dissuadir, isso é causo sério pra estudo!
(e vale para as mulheres, vítimas partícipes do provincianismo, também).

Tá, então para finalizar a introdução à explicação do motivo do meu haikai, nada mais justo de que ele. sim! enfim ele. o Haikai, oras.



era palhaço
aniquilava meu mundo
a largo passo

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Reza a Vela

Cospe fogo o arauto contra prolixa dislexia dos canonizados em esfinges e seus santuários herméticos onde labutam tais iniciados. Um eterno desacordo entre as palavras sagradas e o lirismo puro e claro dos pagãos incitados ao dogmatismo mercantil cronomonetário.

Não penso, logo desisto. Copio tudo direitinho pra transcrever o correto na balança final. Uns arbiotários enganam que ensinam e, os bisonhos seminaristas sacrários vomitam o mesmo terço, rezando igual ao das pontífices autoridades.

Tudo religiosamente normalizado, pequenas obscenidades da liturgia cotidiana destiladas em meta-exorcismos de tantas sacralizadas inutididáticas insanas.

Alguns anos de genuflexório põem, sem problemas, em evidência os novos doutores de canudo e pedabobas pseudo-heroínas do apertar parafusos do sistema. Mais alguns rezadores a entorpecer mentes voadoras na brasa xilocaína. Rezam as práticas pra seu glor(insosso)çobrável suor de cada dia azeitar e mover as poderosas máquinas da Nova (des)Ordem Mundial.

Misericórdia senhor! Ui, ui, tenho medo. Trago estacas, alho, crucifixo e rosário nos dedos. Digo Cruz em Credo saí exu da Quizumba! Atiro água benta, faço promessa, santinho na carteira, cachaça barata em beira de estrada derramando pipoca na macumba.

O que mais eu faço?! Sinceramente já não sei, não sei... Clamo obstinadamente ajuda dos Deuses e alguns poucos adjuntórios clarividentes enquanto entidades pegajosas me desbundam a resposta insofismável iguais aos mesmos ectoplasmas deprimentes (a)lunos:

“Sim Sr., fazer-vo-lo-ei...”

*(a) luno: ser desprovido de luz

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

fátuos fatos

me deu vontade de vale a pena ler de novo, porque comecei a pensar nisso de novo. ah, e claro, para fazer uma ode a quem anda desaparecido, timidinho; contudo, ainda navegador de nossos mares.



A literatura brasileira tem um peso considerável quando tento, em vão, eleger os meus escritores favoritos; entretanto, não posso deixar de confessar que tenho uma particular inclinação à literatura portuguesa. Gosto aos cântaros da maleabilidade do português de Portugal, por entender, que a linguagem daqueles mares e fados apresenta-se beeeeeem mais alongada do que a nossa. Isso não quer dizer que estejamos aquém do falar ou escrever lusitano. Não, não é isso. Acontece que as línguas são como seixos de um rio - quanto mais tempo transcorrido de seu uso no falar, mais alcance cognoscível de explicar um pensamento abstrato ter-se-á. Logo, é cabal, as pedras lingüísticas tomam formas assaz arredondadas quando a aguaceira passa por elas há mais tempo no tempo.



Gosto de todos os falares desse mundo,- das nações mais literárias do velho mundo às mais ágrafas da África. Porém, arrogo-me o direito de perceber que, quanto mais recente o estágio de formação de um idioma, mais abruptas lhe são as formas lingüísticas, o que, uma vez estando dentro do viés literário, estão próximas, pertinho, pertinho da oralidade. Ou seja, ler um livro assim, acaba causando a sensação de como estivéssemos ouvindo uma conversa.
Mas vejam bem, quero deixar bem claro: jamais querendo insinuar com isso que belas não o são essas letras, pois há interessantíssimas obras angolanas, Luuanda, de José Luandino, e moçambicana (essa é doidera pura), de Couto Mia, em O último vôo do Flamingo, que nas prateleiras estão para fazer jus às minhas palavras de agora. E, nossa! dá para aprender muita, mas muita coisa com esse estilo. Aliás, essas leituras são uma aula velada de encorajamento a perder o medo do fazer escrito "assim-ou-assado, professor?"
Ei-los à nossa espera, nas prateleiras de nosso trópico. Sim, ei-los, lolas e lolos ... ah, apenas para não ficar tolos.





sábado, 3 de novembro de 2007

tcc

esses trabalhos de conclusão me levam à conclusão de que o cão is on the road em uma pusta estrada sem "v"de volta.

as digitadas frenéticas conduzem aos mais variados estados de espírito, e, acaso tivesse a oportunidade de fazer comparações libertinas, a um belo arco-íris essa compulsória lisergia eu o faria...

ah, os matizes são os mais variados. só que ao invés de cores em gradação, há espécies patológicas de regressão: surtos psicóticos, ânsias de vômitos, falta de sono, abstinência vital e todos os demais signos linguísticos com a terminologia " al"...

olhares esgazeados ao infinito, risos confundidos com choros, unhas sabuguentas atoradas por dentes em eterno arranque, enfim, uma vasta mistura riquíssima de um jamais vivido gênero mental aniquilatório.



em suma: marionete entrando pro sistema.


sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Eu corei pra vida como se tivesse, de repente,
Uma vergonha do que ela pensa de mim.
Eu sei, a vida não pensa, a vida é.
Boba sou eu que não sei que quem pensa sou eu.
Do meu rosto rosado, escapuliu um sorriso estranho, fadigado.
A vida não me entende, pensei. Não me quer...
[a vida ou eu???]
Ô dó! Que pecado esconder o sorriso!
Não devo, não temo. Me repito, me desminto.
De repente, as coisas são assim, preto no branco, fáceis...
De repente, a cruz ficou leve, ou a via crucis terminou e não notei.
Ouquêi.
Ergui os olhos do chão, parei de fingir que não era comigo
E brindei em copo plástico as paixões de vidro,
Que me alimentam,
Me fermentam a vida.
Olhei para frente e vi o túnel
[a luz virá depois, calmaí...]
E decidi continuar sendo louca
Assustadora, exagerada, apaixonada...
E sem modos. Completamente sem modos.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007



em casa, nenhum pão a repartir com os filhos.



em seu bolso, uma cobreada moeda havia.



todos os dentes na boca. nenhuma oportunidade na vida.



a expectativa do riso surgia das sacolas rasgadas.



todos dentes na boca. alguma esperança de vida.