a literatura brasileira tem um peso considerável quando tento, em vão, eleger os meus escritores favoritos; entretanto, não posso deixar de confessar que tenho uma particular inclinação à literatura portuguesa. gosto aos cântaros da maleabilidade do português de Portugal, por entender que a linguagem daqueles mares e fados apresenta-se beeeeeem mais alongada do que a nossa. Isso não quer dizer que estejamos aquém do falar ou escrever lusitano. não, não é isso. acontece que as línguas são como seixos de um rio - quanto mais tempo transcorrido de seu uso no falar, mais alcance cognoscível de explicar um pensamento abstrato ter-se-á. logo, é cabal, as pedras lingüísticas tomam formas assaz arredondadas quando a aguaceira passa por elas há mais tempo no tempo.
gosto de todos os falares desse mundo. das nações mais literárias do velho mundo às mais ágrafas da África. porém, arrogo-me o direito de perceber que, quanto mais recente o estágio de formação de um idioma, mais abruptas lhe são as formas lingüísticas dentro do viés literário, que, muitas vezes, estão próximas, pertinho, pertinho da oralidade. ou seja, ler um livro como se estivéssemos ouvindo uma conversa.
mas vejam bem, quero deixar bem claro: jamais querendo insinuar com isso que belas não o são essas letras, pois há interessantíssimas obras angolanas, Luuanda, de José Luandino, e moçambicana (essa é doidera pura), de Couto Mia, em O último vôo do Flamingo, que nas prateleiras estão para fazer jus às minhas palavras de agora. e nossa, mãe, dá para aprender muita, mas muita coisa. aliás, gentes, essas leituras são uma aula velada de encorajamento a perder o medo do 'fazer-assim-ou-assado, professor?'
Ei-los. Ei-los, lolas e lolos ... ah, apenas para não ficar tolos.
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nesses dias de férias, dedico-me a tão ansiada liberdade literária expectantemente aguardada ao cúmulo de riscar durante meses a fio, pauzinho-em-pauzinho naquele ordinário papel específico de detenta do templo dogmático. (SAI PRA LÁ BICHO!) por esses dias de início de 2007, saio das emareadas ressacas canônicas para balouçar em outros mares não muito distantes. 'Estou a ler' A Voz da Terra, de Miguel Real. Trata-se de um romance histórico que narra a história do Marques de Pombal, nos cambiantes rumos de uma Lisboa supersticiosa e imperial para uma Lisboa burguesa, racional e geométrica, conseqüência do Maremoto de 1755. Xi, mas peraí, nem sei se isso é tudo ainda que afirmei! estou aqui, à deriva, em imaginária terra lisboeta porreta, sem a pressa cartão-ponto tão usual em minha vida. agora é férias, estou no mar, vou quando quero para baixo d´água, mergulho bastante, ieu, mazoca bem quista, sou comparsa da dor, abro os olhos no sal grosso em meio aos planctons, uia, bato o pé para escutar barulho de bagunça e lembrar da infância que ainda é, fico horas imersa até enrugar a pele e ficar uma ameixa seca do charque, volto arriscando-me em passo-contra-passo no trajeto do chão fofo, estico a canga na areia farinhenta tãããão bonita, pego um sol bem morninho de arrepio, e então, estico o livro bem alto em cima do cabeção, ah, coisa boa, e ele é bem grandão, bem pesado é o meu mais novo guarda-sol. Obrigada, Josué, por fazer eu economizar o bloqueador solar. Assim, poderei comprar outros livros.
;)
4 comentários:
eita boi. voltando.
parabéns pelo blog. já te deste conta que o endereço é diferente do título? poderEgloria e poderIgloria ....
na boa, tu tá matando a pau, mari. teus escritos estão foda.
Ô guria!
Ler tuas palavras me inspira, sabia???
Tu é uma cabeçinha fervilhante de palavras, e te admiro muito por isso!
Te adoro!
Lala
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