ele era o poeta!
os jornais publicavam
a grande impressa engraxava
a tevê era toda toda de sua vinheta
o teatro, meu deus, já graçava opereta
os mercados faziam pano de prato
e as mulheres, loucas,
gritavam o nome na hora do parto
ele era um grande poeta!
um poeta de uma cidade muito grande
e tão pequena
colocavam o seu nome em praças
o seu nome em agendas
o seu nome em outros nomes
até que um dia o nome próprio
virou um adjetivo.
e não havia paliativo
era só ele.
ele era um grande poeta?
por tudo estavam as odes
até em samba enredo e pagodes
mas no fundo ninguém sabia
o preço que o grande poeta pagava
no escuro abandonado do quarto
o que iluminava os seus olhos míopes
era um branco de celulose
a luz apoucada emergia de pilhas
pilhas de lanterna, pilhas de papel
e poucos se davam conta
ele estava no escuro
e pagou tudo em segredo.
pagou com a solitude no breu,
o dom de brincar com a prosa
mas é verdade primorosa
o preço de ser um poeta nunca doeu
pois poeta assim ele nasceu
e no quarto vazio de seu hotel
imaginava sempre rodar em carrosel
nunca foi triste
estavam ali as musas com ele
e iluminadas pelas folhas de papel
dançavam os cabelos de algas no mar do ar
em um Alegre Porto de partida,
e onde, não mais que de repente,
tudo tranformava-se sempre
em um inesquecível ponto de chegada.
vôa poeta!
4 comentários:
good year
BRAVO!
Josué
sabe, Josué, eu comecei a tecer uma narrativa de como surgiu esse poema, porém o texto começou a crescer e crescer, e resolvi, então, fazer da explanação um texto próximo, destinado ao deliver me.
poesia é muito legal! me sinto uma infante a pular corda, esquecendo até de respirar...só que ao invés da corda, pulo palavras e palavras, linhas, novelos, parágrafos, piscinas para entrar no ritmo!
:)
Fizeste-me lembrar Chico Buarque numa velha canção que diz: "morena de Angola que leva o chocalho amarrado na canela, é ela que mexe o chocalho, ou é o chocalho que mexe com ela?"
Josué
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